14/06/2025
Compartilho com vocês um texto literário de minha autoria sobre como sair das situações opressoras e estruturais, por meio de um mergulho no inconsciente
"Os Anos Amarelos"
Ela se perguntava em silêncio:
"Qual o melhor caminho? Por onde recomeçar?"
Naquele dia, ao lado do velho companheiro de passos e silêncios, decidiu revisitar a antiga casa.
Acreditou, por um instante, que os fantasmas do passado já não estariam mais lá.
Mas a memória tem seus próprios caprichos…
E o que parecia esquecido estava apenas adormecido, à espera.
Quando entrou, ouviu uma voz conhecida, cortante como navalha:
"Vocês!"
O corpo reagiu antes da mente.
Correu. Fugiu. Mas logo percebeu que estava sozinha.
Era como se a vida insistisse em interromper qualquer partida.
Buscou abrigo no subsolo.
As promessas de socorro ficavam presas entre o esquecimento de um objeto e as conversas perdidas no tempo e nas histórias de submissão.
Só então se percebeu o tamanho da sabotagem: os caminhos de fuga estavam todos bloqueados.
Então ela escolheu o caminho dos muros.
Pulou cercas, atravessou quintais, cortou ruas como quem rasga a própria história para abrir um novo espaço.
Alguns rostos são familiares, um corpo sem expressão, um boneco de cera.
Mais um lembrete de como alguns escolhem apenas existir, sem vida nos olhos.
Sem opções, mergulhou na represa.
Afundou fundo, como quem busca no silêncio da água uma resposta.
E, de um jeito quase poético, outras mulheres – que antes pareciam apenas espectadoras também mergulharam.
Porque tem dores que, mesmo caladas, são compreendidas entre mulheres que sofreram as marcas da opressão.
Quando emergiu, decidiu marcar a passagem do tempo com o que tinha:
Palitos de sorvete amarelos, colados um a um num caderno de desenho.
Cada ano.
Cada página… uma lembrança de que ela sobreviveu.
Porque algumas histórias a gente não esquece.
Mas é a gente quem escolhe como vai continuar!
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