12/09/2025
Saúde mental ignorada, medicina adoecida
Se a medicina negligencia a saúde mental, isso revela uma falha estrutural no próprio modelo científico que a sustenta. Ao reduzir o corpo humano a parâmetros técnicos e fragmentados, a prática médica ignora que os principais determinantes de saúde e doença são psíquicos, relacionais, psicosomáticos, inflamatórios, imunológicos e epigenéticos. Essa cegueira não apenas compromete a capacidade de compreender o adoecimento em sua complexidade, mas também adoece a própria profissão médica: médicos e médicas, pressionados por ambientes competitivos e hierárquicos, tornam-se eles mesmos vítimas de depressão, burnout, ansiedade e suicídio, sem que o sistema os reconheça ou cuide deles. Assim, a medicina se converte em um corpo institucional doente, incapaz de se tratar e, portanto, de tratar os outros.
As consequências desse descuido se estendem a toda a saúde coletiva. Quando não se olha para as relações, para os ambientes, para as comunidades e para as famílias, perde-se de vista a dimensão fundamental da saúde como experiência humana compartilhada. Uma saúde pública que não reconhece a saúde mental como eixo central se torna uma contradição em termos, pois o público é, por essência, um espaço de convivência, vínculo e pertencimento. Sem integrar o cuidado psíquico e relacional, não existe saúde de fato, nem tampouco saúde pública: o que resta é um sistema vulnerável, incapaz de enfrentar as raízes profundas do adoecimento contemporâneo.