
29/07/2025
Sem dúvidas é bonito e gostoso. Mas... Por que virou objeto de desejo?
Talvez porque não estejamos apenas falando de um doce. Estamos falando de pertencimento. Do desejo de fazer parte, de ser aceito, de se encaixar sem sentir-se excluído da “rodinha”.
Como diz Lacan, o desejo é sempre o desejo do outro. De ser visto pelo outro. De estar com o outro. E, nessa lógica unimos dois desejos muito fortes na atualidade: a vontade de pertencer e a busca pela perfeição — ou, ao menos, pela ausência de defeitos.
É o doce perfeito: combina o sabor do brigadeiro com todas as qualidades do morango — que, convenhamos, tem muito poucos defeitos.
Mas hoje, já não basta ter poucos defeitos. Queremos sempre mais. Mais idealizações, mais estética, mais perfeição. E o morango, pobre morango, que já era ótimo por si só, agora precisa de outra roupagem pra viralizar. Precisa se vestir de algo novo, cobrir-se com outra camada para conquistar os holofotes. Mas essa nova roupagem é difícil de acertar (pelo menos é o que dizem as confeiteiras): às vezes derrete, às vezes amarga, às vezes gruda nos dentes — o que o torna quase impossível de morder. Pra dar certo o processo precisa ser perfeito.
Filas se formam para comprá-lo. E quem consegue — ah, esses se sentem parte do grupo seleto que experimentou o doce perfeito. Se delíciam pelo prazer de comer e de pertencer - olha o princípio do prazer aqui minha gente!
E, por favor, não entendam que estou problematizando ou me opondo ao morango do amor. Muito pelo contrário, é uma delícia! Aqui é só uma leitura psicanalítica, afinal, a psicanálise está na vida!
*Imagem criada por I.A.