
15/04/2025
Contos e caretas.
Depois de muitas andanças pelo mundo afora, ontem voltei a entrar numa rodoviária e estar em um ônibus por quase 9 horas.
Olho para as pessoas ali a esperar e imagino qual é sua bagagem, de onde vem, para onde vão..
Nas andanças, livros e músicas são ótimos companheiros de estrada.
No saguão de espera, próximo a mim, um menino e sua mãe, também aguardavam o ônibus. Vez ou outra ele me espiava com olhar curioso, que eu retribuía com caretas. É como se abrisse a janela do
parquinho aqui de dentro e deixa-se-o me visitar.
Sem sucesso, o tareco não abriu um único sorriso banguela. Enquanto a cena rolava, aqui dentro muitas eram as angústias sobre o momento que se atravessavam: nova cidade, novas pessoas, nova cultura, talvez um novo lar?!
O ônibus chegou e meu assento era ao do deles. Me acomodei no banco e tirei o livro da mochila, começando a ler.
Me olhando curiosamente, exclamou para sua mãe:
“-Mãe, a gente trouxe livros?” A mãe respondeu que não. Ele continuou: “Mas podemos trazer para a próxima viagem, igual ela?” (Apontando o dedo para mim) “-Podemos sim, vamos lembrar de trazer.”
Continuei a leitura sem interagir na conversa entre eles, olhando apenas de revesgueio.
Mas os olhinhos de bulita não paravam de me fitar, e então lançou a pergunta que não conseguiu calar:
“-tia, o que você está lendo?”
(Um sorriso de satisfação escorreu de canto)
(Em fim ele me notou!)
Mostrei a capa do livro e falei um pouco da história.
“-Você pode me contar essa história?” A mãe riu, pediu desculpas e para que ele não “incomodasse”. Ele não se satisfez, audacioso se levantou e sentou no banco vazio ao meu lado, curioso para ver o livro e ouvir mais sobre a história. Claro, aproveitou e também me pediu se eu tinha algo pra comer (risos) Dividimos os pães de queijo que minha amiga me deu para a viagem, enquanto ele me contava dos Gibis da Turma da Monica.
Pronto, tava feito o vínculo que não aconteceu pelas caretas, mas aconteceu pelas histórias.
Meu coração acomodou as angustias. Laços tem muita força de se fazer, quando histórias queremos conhecer.
Impossível não pensar no meu fazer.🤍