05/11/2025
Essa Lua cheia não fala de desejo; fala da dor de nascer. E do que precisa morrer em você.
É como atravessar um canal escuro e estreito, sentindo a pressão que empurra adiante, uma força maior, um grito interno abrindo a pele que já não pode mais ser contido.
Por mais que a gente não se lembre, foi assim que chegamos aqui. Lá atrás, quando viemos ao mundo. A gente não avançou porque confiava, nem porque sabia que era o caminho certo, nem porque acreditava na vida. A gente avançou porque tinha que ser.
Esse é o território de Bharani, onde acontece a Lua cheia de hoje, um nakshatra simbolizado por uma yoni.
E Bharani não fala só de nascer: fala de viver, ter prazer, encarar a própria finitude e renascer. É um lugar intenso, profundo, magnético, onde a força de Áries vira impulso para trazer algo à luz.
Mas, por mais belo e transformador que seja um parto, toda mãe sabe: é o depois que exige força. Porque depois do nascer e do renascer, existe um ser que pede raiz, chão, colo.
Essa Lua cheia, então, cutuca com uma pergunta: quanta estrutura e maturidade você realmente tem para receber tudo aquilo que está pedindo para nascer na sua vida?
Talvez por isso, a divindade ligada a Bharani seja Yama, o deus da morte, aquele que purif**a, queima o excesso. É ele que dá nome aos yamas, uma das partes do Yoga: princípios simples e universais que sustentam nossos valores mais básicos, como não mentir, não pegar o que não é seu, não causar dano. Parece simples, né?
Mas com Yama não tem papo, não tem autoengano. Ele vem justamente cortar as pequenas mentiras que contamos pra nós mesmos pra manter o que já não se sustenta: “tá tudo bem assim”, “depois eu mudo”, “não é tão grave”, “eu aguento mais um pouco”.
Mas não dá pra fugir da dor de nascer quando a verdade bate na porta.
Então, não é só sobre “sair da zona de conforto”, e sim sobre reconhecer o que precisa ser limitado, cortado, deixado para trás, para que algo novo possa realmente aparecer.
Nem sempre porque a gente quer.
Mas porque chegou a hora.