18/06/2025
Eram 5 da manhã. Voo de São Paulo para Chicago. Eu estava num soninho gostoso quando ouvi ao fundo (em inglês): “por favor, se houver algum médico a bordo, favor identifcar-se”.
Sorte ou azar, é a QUINTA vez que isso acontece comigo. Levantei e descalço mesmo fui ao encontro de um homem caído no chão cercado por 4 pessoas: um comissário, um homem de aproximadamente 60 anos, uma mulher de uns 35 anos e a esposa do paciente.
Depois de anos de sala vermelha, avaliar um paciente “inconsciente” torna-se visceral. Me aproximei e entendi que o homem de 60 e a mulher de 35 eram médicos mas ambos estavam SUPER alterados. Criando teorias sobre o que deveria ser feito e ainda não pareciam nem ter de fato OUVIDO o paciente.
Eu me apresentei ao comissário e perguntei se algum médico já tinha se apresentado. Os dois recuaram ao ver alguém DE FATO assumindo a situação. A esposa estava com os olhos cheios de lágrimas e o paciente deitado de barriga pra cima me olhando MUITO assustado. Deixei os dois colegas vivendo o pânico e falando frases soltas, sentei-me quietinho no chão ao lado do paciente e enquanto tranquilizava o mesmo, avaliava o estado de consciência e verif**ava os sinais vitais com o kit que chegou. Um silêncio se instalou, os dois colegas f**aram tranquilos, a esposa ficou esperançosa e o paciente dava um sorrisão a meu pedido (eu tava procurando algum sinal de AVC, mas o sorriso dele tava lindo e perfeito).
Ele só tinha f**ado nauseado porque o jantar do avião não fez bem e ao sair do banheiro ficou tonto e acabou tendo uma “lipotimia”, um quase desmaio!
Queriam imobiliza-lo. Queriam aterrisar as pressas. Queriam medicações para tratar AVC dentro do avião. Queriam um DESFIBRILADOR.
Em nenhum momento ele perdeu consciência ou alterou algum sinal vital. Ele estava vindo para Chicago visitar o neto QUE ESTUDA MEDICINA aqui. Ele passou mal por que comeu algo que não caiu bem. Algo inofensivo, benigno, auto limitado e “fácil” de interpretar e resolver.
Mas como quase tudo na Medicina, se a gente não prestar atenção em quem REALMENTE importa (o paciente), f**amos mergulhados nos nossos egos e não resolvemos nada.