28/01/2022
Eu estava numa rodinha de adultos em um aniversário infantil, quando uma pessoa se juntou a nós e todos se apresentaram.
Oi, prazer, eu sou a Mari.
Oi Mari, você é a mãe de quem?
Não sou mãe, sou a madrasta do Vicente.
Ah, mas você parece legal, deve ser uma boadrasta!
Não.
Eu sou a madrasta mesmo.
Madrasta é uma palavra cuja raiz no latim é mater. Eu não sou “boadrasta” simplesmente porque o prefixo da palavra madrasta não significa maldade.
Saio da festa carregando alguns olhares confusos de pessoas que não entendem o que faz uma madrasta na festinha infantil do amigo da criança. Saio da festa carregando também uma tristeza que nasce do estigma dessa palavra, uma solidão que brota do preconceito.
Será que eu poderia ter levado meu enteado nessa festinha?
Será que eu faço parte da vida dele?
Será que eu tenho lugar na minha família?
Às vezes me sinto apenas um anexo, uma coisa acoplada, insegura, com uma torcida imensa para que caia fora logo, sabe?
Mas ao mesmo tempo eu sinto carinho no meu coração, afeto, vontade de cuidar, de pertencer. Eu sei que é possível. E sabe quando se torna possível? Quando a gente se une, como sociedade, e decide desmistificar, incluir. Quando a gente decide que chega dessa narrativa de competição feminina, de conflitos, de brigas e disputas. Quando a gente encara que divórcio não significa fracasso e que recomeços fazem parte da vida.
Quando a gente abre a cabeça e interioriza, de uma vez por todas, que a palavra madrasta NADA tem a ver com maldade.
Maçã não é do mal porque começa com MA. Mala, madrinha, maçaneta. Nada disso carrega significado negativo.
Madrasta não é palavrão. Muito pelo contrário, é amor e carinho. É alguém que certamente é de uma importância imensa na vida de uma criança.
Texto: .madrastas