01/07/2025
Na clínica, escutar é mais do que ouvir palavras ou identificar sintomas. É estar implicado em um tipo de presença que reconhece o sujeito antes do diagnóstico, a história antes da queixa, o silêncio antes da fala. O manual pode orientar, mas é o encontro que sustenta. Há nuances que só se revelam quando o olhar está atento ao detalhe — não como minúcia técnica, mas como abertura para o que ainda está por vir.
O território clínico não é feito de certezas. Ele se constrói na escuta do singular, na disposição de se afetar, na coragem de sustentar aquilo que é ambíguo, contraditório, inacabado. A ética do cuidado exige mais do que protocolos — exige disponibilidade interna. Um profissional maduro é aquele que aprendeu a se mover nesse campo sem buscar atalhos, sem apressar a dor do outro, sem reduzir o processo ao que é previsível.
Voltar-se à prática com esse tipo de presença é, ao mesmo tempo, retorno e avanço. Retorno à intenção que um dia te fez escolher esse ofício — e avanço na direção de uma clínica mais íntegra, mais sensível, mais ética. Porque, ao fim, é no detalhe — no modo como se sustenta a escuta, o vínculo e o silêncio — que a transformação realmente começa.
Avante, para frente e para o alto! ⛰️