30/06/2025
A vida tem suspiros.
Tem o suspiro doce, como aquele do bolo de aniversário, rodeado por risos infantis, mãos batendo palmas e o afeto silencioso de quem nos ama. O suspiro da criança vem do sono profundo ou após acalmar o choro.
Tem o suspiro que escapa quando o coração tropeça. Aquele que vem quando nos apaixonamos. É mais fundo, meio bobo até, como se o corpo abrisse espaço para algo novo... Os olhos brilham, o peito se expande e o ar parece dançar por dentro. Esse suspiro diz: “eu sinto”. E não precisa de mais nada.
Há também o suspiro do medo, da incerteza, da preocupação. É mais pesado, quase um gemido contido. Surge no silêncio da madrugada ou em meio ao barulho do dia. O peito aperta, os ombros pesam, e o suspiro tenta aliviar o que o pensamento não consegue resolver. É um respiro de resistência: não para fugir, mas para aguentar.
E tem o suspiro da contemplação. Quando a gente vê o mar pela primeira vez depois de muito tempo. Quando o filho dorme tranquilo ou o abraço chega na hora certa. É um suspiro que não precisa dizer nada...só sentir.
Por fim, há o último suspiro. Aquele que encerra a travessia. Que nos desamarra da dor, da luta, do tempo. É o suspiro que sussurra ao mundo: “eu terminei”. E, para quem crê, é também o primeiro sopro de um novo tempo, a eternidade do céu. Silencioso para quem f**a, mas talvez recebido com trombetas lá do outro lado.
Do ponto de vista da fisiologia, um suspiro é mais que poesia: é necessidade. Ele acontece quando os alvéolos dos nossos pulmões, responsáveis pelas trocas gasosas, começam a colapsar com respirações superficiais. Então, o cérebro envia um sinal para puxarmos uma respiração profunda, um duplo suspiro automático, para reabrir esses alvéolos e manter o pulmão funcionando bem.
Mas o corpo não separa emoção de função. Por isso, o mesmo suspiro que reativa o pulmão, alivia a alma, como se o corpo dissesse: “deixa eu te ajudar a seguir”. Em meio ao caos, o suspiro é o convite do corpo para um reencontro com a vida.
A vida tem suspiros, sim.
Então, respira. Suspira. E vive.
Acredite, aqui surgiu um suspiro ao terminar de escrever este texto.
Priscila Sabka Thomassen
Instituto Sonar.E