03/12/2025
Às vezes, o maior desafio em terapia não é quando a relação está desgastada, cheia de conflitos e falhas — é quando, no discurso, tudo está perfeito. O parceiro é gentil, presente, carinhoso, responsável, admirado por todos… e mesmo assim a pessoa diz: “eu não sinto mais nada”. À primeira vista, parece o fim da linha, porque o método clássico da terapia é identificar as feridas da relação, trabalhar nelas, ajustar comportamentos e esperar que a mudança gere uma resposta emocional positiva.
Mas quando não há “ferida visível”, quando não há comportamento a corrigir no outro, a sensação é de que não há mais nada a ser feito.
Só que existe, sim: a terceira camada. É ali, nas crenças profundas, que moram histórias antigas de desvalor, convivência em ambientes familiares instáveis e aprendizados emocionais dolorosos. Pessoas que cresceram em cenários de frieza, desordem e turbulência aprenderam, sem perceber, que o “normal” é ser ignorada, despriorizada, tratada sem cuidado. E quando finalmente encontram alguém que oferece um amor estável e respeitoso, esse terreno saudável parece estranho, quase irreal.
Por isso tantas vezes elas se afastam do que faz bem e se agarram desesperadamente a relações caóticas, onde se sentem “em casa”. Não é falta de gratidão — é um padrão invisível de autossabotagem criado lá atrás. E é nessa camada que o trabalho terapêutico realmente começa.
André