16/01/2025
Era um sábado à noite, o relógio marcava o início do descanso de um fim de semana comum, mas o destino, como sempre, tinha outros planos.
Eu estava de sobreaviso da cirurgia torácica, quando o telefone tocou. Do outro lado, a voz apressada do meu colega plantonista, me enviou uma imagem que me fez gelar a espinha.
Era um raio-X de um caso desafiador: um volumoso derrame pleural hipertensivo, com um desvio claro do mediastino.
O quadro era grave, urgente, e estava claro que o paciente precisava de um especialista — de mim, naquele momento.
O derrame pleural hipertensivo não era apenas uma ameaça ao pulmão; ele carregava consigo o risco iminente de insuficiência respiratória, colapso cardiovascular e até uma parada cardiorrespiratória, cada segundo contava.
Em um piscar de olhos, eu estava a caminho do hospital, o cérebro funcionando a mil, planejando as ações que seriam necessárias. No caminho, a mente tentava se concentrar, focada em cada detalhe da técnica que seria exigida: a toracocentese terapêutica diagnóstica, a biópsia pleural e o dreno torácico.
A urgência era palpável no ar. O paciente estava crítico, e eu sabia que, ao remover o líquido pleural, tudo melhoraria. Com mãos firmes, comecei o procedimento. Retirei, 3.800 mL de líquido turvo, denso e fétido, um sinal claro de que a vida daquele paciente estava em risco.
O diagnóstico: empiema pleural. A doença não tratada que veio de uma pneumonia negligenciada, havia dado origem àquela tempestade silenciosa.
Ao término da drenagem, a pressão no pulmão foi restaurada e no domingo pela manhã o paciente já se encontrava sentado, respirando normalmente, sem auxílio de oxigênio.
O paciente permanecerá sob cuidados intensivos, iniciado o ciclo de antibióticos que combaterão com precisão a infecção silenciosa, enquanto a fisioterapia respiratória ajudará a reacender a força de seus pulmões. Cada dia será uma conquista, um passo mais próximo da recuperação plena, até o momento em que o dreno poderá ser retirado com segurança.