03/09/2025
Recuperando da APAC ajuda a reconstruir o Hospital Frei Gabriel e a própria vida
Há histórias que já não começam bem e que são marcadas por episódios que quebram o espírito. A história de Rafael Be**no Candido é uma dessas narrativas, uma saga de dor e resiliência que mostra que um novo começo é sempre possível, não importa quão profundas tenham sido as quedas.
Nascido em Frutal, Rafael carrega consigo as marcas de uma infância turbulenta. O sofrimento veio cedo, nas mãos de um padrasto violento, e aos 14 anos, ainda menino, ele fez a escolha mais dura: a solidão.
Construiu uma casinha no terreno da família e aprendeu a sustentar a si mesmo com as próprias mãos, trabalhando na roça de abacaxi e como servente de pedreiro.
Aos 17 anos, a solidão e as circunstâncias o levaram a um caminho sombrio. As dr**as chegaram primeiro, e com elas, uma espiral de crimes, principalmente, furtos, roubos.
Aos 18 anos, a primeira prisão. Pouco meses depois ganhou a liberdade, mas não estava livre das velhas companhias e da vida na criminalidade. Até que, em 2016, um crime grave – uma lesão corporal – foi o marco zero de sua vida. O fundo do poço, mas também o ponto de virada.
A oportunidade de renascer veio com um nome: APAC. Há dois anos e seis meses, Rafael deixou para trás as correntes invisíveis do sistema prisional comum e entrou em um lugar onde encontrou o apoio e as oportunidades que precisava para mudar.
Ao chegar na APAC, de cabeça baixa e mãos para trás, como é de praxe no sistema prisional, uma doce e firme voz o resgatou: "Meu filho, tira as mãos pra trás, levanta a sua cabeça, porque aqui você não é um preso, você é um recuperando".
Na APAC, Rafael encontrou não uma cela, mas uma comunidade. Não um carcereiro, mas um guia. Não uma pena, mas uma missão. Ele redescobriu o valor do estudo e concluiu o Ensino Médio. Sonha agora com a faculdade de Radiologia ou Agronomia, planejando um futuro que antes era inimaginável.
Mas sua maior aula de humanidade acontece longe das salas de aula, no Hospital Frei Gabriel. Convidado para integrar a equipe de voluntários na reconstrução do hospital, Rafael aceitou o chamado não com receio, mas com determinação. Enquanto suas mãos, outrora usadas para o crime, agora empunham pincéis e ferramentas, ele não vê apenas paredes sendo repintadas ou quartos reformados. Ele vê a reconstrução da própria vida.
Cada tijolo recolocado, cada parede lixada, cada novo quarto entregue é um pedaço de sua própria história sendo reconstruída. Ele não está apenas devolvendo à população de Frutal um hospital que estava esquecido; está devolvendo a si mesmo a dignidade que havia perdido.
"Minha sensação é de estar ajudando o próximo", diz ele, com uma serenidade que só quem verdadeiramente se encontrou consegue transmitir. "Foi Deus que me mandou pra cá, pra abrir um pouco mais da minha visão. Porque se não fosse nós, quem seria?"
Rafael encontrou a verdadeira liberdade não na fuga, mas no trabalho voluntário. Não no tomar, mas no doar. Em suas próprias palavras, uma mensagem que ecoa como um testamento de sua transformação:
"Amigo, aonde quer que você vá, sempre deixe o seu melhor... Plante boa semente, espalhe gentileza, construa pontes ao invés de muros... Trabalhe bastante, reclame menos, porque cada esforço pode ser a colheita do amanhã... Curta cada momento como se fosse o único da sua vida".
Rafael, o menino de infância difícil, o homem que se perdeu, e agora o recuperando que reconstrói um hospital e, com isso, reconstrói a própria vida. Sua história é a prova de que sempre é tempo de recomeçar e que, às vezes, a cura para nossas próprias feridas está em ajudar a curar o mundo ao nosso redor.