20/10/2025
Por trás do sucesso de uma cirurgia, existe o anestesiologista que atua como guardião da vida do paciente
Quando se pensa em uma cirurgia, a imagem do cirurgião é a que imediatamente vem à mente. No entanto, a figura central para o sucesso e a segurança do procedimento é, frequentemente, o médico anestesiologista. Sua atuação começa muito antes do primeiro corte e se estende até a alta do paciente, em um trabalho minucioso de avaliação, monitoramento e controle.
No Hospital Frei Gabriel, o Dr. Ricardo Fioretti de Camargo, anestesiologista, detalha essa jornada. Ele explica que o processo cirúrgico tem início semanas antes, na consulta de avaliação pré-anestésica. "É nessa fase que identificamos comorbidades como hipertensão, diabetes, problemas cardiológicos, disfunções na tireoide ou histórico de complicações anteriores com anestesia", afirma o médico. "Realizamos uma anamnese completa para determinar se o paciente está apto para a cirurgia e qual o risco envolvido".
A avaliação segue critérios internacionais de classificação de risco (ASA). Condições como obesidade mórbida, pressão arterial descontrolada, diabetes sem manejo adequado, infarto ou Acidente Vascular Cerebral (AVC) recentes podem levar ao adiamento de cirurgias eletivas. "O objetivo é evitar a necessidade de um acompanhamento pós-operatório em UTI. Se a cirurgia não é urgente, primeiro estabilizamos o quadro clínico e só depois realizamos a cirurgia", ressalta Dr. Ricardo.
Ignorar essa etapa pré-operatória, de acordo com o especialista, expõe o paciente a riscos significativos. "Realizar uma cirurgia eletiva com o paciente descompensado pode levar a complicações intraoperatórias e no pós-operatório. A recuperação é diretamente impactada pelo estado de saúde no momento da intervenção", alerta.
Durante o ato cirúrgico, enquanto a equipe do cirurgião se concentra no procedimento em si, o anestesiologista assume o papel de guardião dos sinais vitais do paciente. "Monitoramos continuamente a pressão arterial, a frequência cardíaca, a saturação de oxigênio e a hidratação. Também administramos antibióticos para prevenção de infecções e iniciamos o controle da dor no pós-operatório", explica Dr. Ricardo.
A escolha da técnica anestésica é personalizada, variando conforme a complexidade da cirurgia e o perfil do paciente. As opções vão desde a anestesia local para procedimentos menores, passando pela sedação consciente para exames como endoscopia, até o bloqueio regional (como a raquianestesia) e a anestesia geral, utilizada em cirurgias complexas que exigem intubação e inconsciência completa.
Questionado sobre a existência de um "teste para anestesia", o Dr. Ricardo é enfático: não há. "Um dos riscos inerentes é a possibilidade de uma reação anafilática a qualquer uma das medicações utilizadas, que podem ser de mais de oito classes diferentes. Outras complicações potenciais incluem depressão respiratória, parada cardiorrespiratória ou a rara hipertermia maligna", enumera. É justamente a avaliação prévia minuciosa a principal ferramenta para identificar e mitigar essas possibilidades.
O anestesiologista atua como o último elo de uma corrente de avaliações, sintetizando todas as informações antes da cirurgia. "Nesse momento, conseguimos aliviar a ansiedade do paciente, explicando os resultados dos exames e os preparativos necessários", explica o médico.
Orientações detalhadas sobre o jejum obrigatório – geralmente de seis horas para sólidos e duas para líquidos claros –, o ajuste de medicamentos de uso contínuo, como anticoagulantes, e o manejo da diabetes no dia do procedimento são repassadas. "É quando apresentamos um panorama completo do que vai acontecer em todas as etapas da cirurgia", esclarece Dr. Ricardo.
A função do anestesiologista, portanto, transcende a simples aplicação da anestesia. É uma especialidade médica complexa, dedicada a garantir a segurança e o conforto do paciente em um momento de alta vulnerabilidade, posicionando a consulta pré-anestésica como um pilar indispensável para o sucesso de qualquer intervenção cirúrgica.