02/10/2024
Uma crise não acontece “do nada”.
No autismo, não são apenas os comportamentos que diferem daquilo considerado convencional. Não é só a dificuldade nas interações, no estabelecimento de comunicação apropriada (que de fato comunique o que o autista sente, precisa, intenciona…) que está presente. Não são apenas as manifestações do processamento sensorial atípico, uma condição comum à maioria dos autistas.
O autismo diz respeito a tudo isso e muito mais. E não há a “vez da dificuldade de comunicação”, vez da “dificuldade do processamento sensorial”. Não há fila ou hierarquia. Tudo acontece ao mesmo tempo. Junto, misturado, misturando…
Enquanto a etiqueta machuca o corpo, esse mesmo corpo não para de sentir o aperto de mão de dias atrás, a luz pode estar sendo processado excessivamente num ambiente em que um grupo de pessoas fala sem parar sobre assuntos que divergem do interesse do autista e até incluem, vez ou outra, piadas e sarcasmo (algo que também desgasta excessivamente inúmeros autistas).
Então, uma moeda, repentinamente, cai no chão e o autista entra em crise. O cérebro resolve “gritar” porque seguir “falando”, sobrecarregando, não estava sendo suficiente. O cérebro do autista já não podia mais “fazer de conta” que aquilo tudo não estava impossível demais de ser sentido, experienciado, processado…
“Nossa, mas a crise foi só por isso?” Alguém que desconhece o autismo, diz.
E eu digo: não, nunca é “só isso”.
Aquele autista que aparenta fraqueza por entrar em crise, diante de algo “insignificante”, foi extremamente forte ao aguentar chegar até ali, na convivência com tudo o que, nos detalhes, no seu autismo, é distinto do comum - e é gigante; tudo ao mesmo tempo. Junto, misturado, misturando…
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Sou fã 🌸