26/06/2025
🧠 Transtorno do Espectro Autista e o Tratamento Psicanalítico: Escutar além dos rótulos
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é frequentemente abordado sob uma ótica biomédica e comportamental, especialmente pelo viés do DSM-5, que foca em critérios observáveis como déficit na comunicação social e padrões repetitivos de comportamento. Essa perspectiva, embora útil em contextos diagnósticos e legais, muitas vezes desconsidera a singularidade subjetiva da criança.
A psicanálise, ao contrário, não busca “normalizar” a criança, mas escutar o sujeito por trás do sintoma. Em vez de perguntar “o que ela tem?”, a psicanálise pergunta:
“O que essa criança quer expressar com seu modo de ser no mundo?”
Autores como Maud Mannoni, Rosine e Robert Lefort e mais recentemente Jean-Claude Maleval, têm mostrado que o autismo pode ser compreendido não como uma falha, mas como uma forma específica de subjetivação, com lógica própria. A criança autista não está “fechada”, mas se comunica de forma diferente da norma neurotípica, por gestos, silêncios, repetições, fixações, objetos.
O tratamento psicanalítico com crianças autistas propõe:
Um espaço de escuta livre de imposições, onde a criança possa se expressar no seu tempo.
Respeito ao modo de gozo singular (como ela se satisfaz), muitas vezes ligado a rotinas, sons, objetos, gestos.
Construção de um laço com o outro que não seja invasivo, mas acolhedor e aberto à diferença.
Não se trata de “corrigir” o autismo, mas de construir um laço possível com o mundo e com o Outro, a partir das referências singulares da criança. A psicanálise aposta no sujeito autista como capaz de invenção, e não como um portador de um déficit a ser reparado.