19/05/2025
Vivemos em uma era onde os limites entre realidade e fantasia estão cada vez mais difusos. Os bebês reborn, bonecos hiper-realistas que imitam com detalhes impressionantes um recém-nascido. Mas o que há por trás dessa maternidade de faz de conta? O fenômeno pode parecer inofensivo ou até fofo à primeira vista, mas em certos casos revela camadas profundas de sofrimento psíquico.
Há uma linha tênue entre o uso lúdico ou afetivo desses bonecos e o adoecimento emocional. Quando uma pessoa passa a investir intensamente em uma relação simbólica com um objeto inanimado — projetando nele cuidados, afeto, rotinas e emoções como se fosse um filho real — podemos estar diante de um sintoma. Essa fantasia de maternidade, que não envolve riscos, frustrações ou imprevisibilidade, pode servir como fuga de dores emocionais mal elaboradas, como luto, abandono, traumas ou fracassos relacionais.
Essa “maternidade fake” pode ser compreendida como um reflexo de uma geração que, em partes, resiste ao amadurecimento. Quando ultrapassa o lúdico ou o colecionismo, pode revelar um desejo inconsciente de permanecer em um estado de dependência emocional ou de manter uma ilusão de controle afetivo — sem os desafios reais que a maternidade ou os vínculos autênticos exigem.
Não se trata de julgar, mas de olhar com curiosidade e escuta para os sentidos mais profundos desse fenômeno. Por trás do cuidado com um boneco pode haver a tentativa de reparar feridas da infância, suprir carências ou, até mesmo, fugir das dores do mundo adulto.
O que essas relações nos contam sobre afeto, vínculo, e o medo de crescer?
Isso não significa que toda relação com bebês reborn seja patológica. O problema está na rigidez da fantasia, no isolamento social, na substituição do real pelo imaginário, e no sofrimento psíquico que se esconde sob essa relação. É preciso escuta, acolhimento e, em muitos casos, intervenção terapêutica para que se possa compreender o que está sendo encenado ali: perdas não elaboradas? Maternidade negada? Carência extrema? Medo de crescer?