
14/10/2019
Eu avisei que seriam mais dez minutos de TV. Quando deu o horário, falei, em tom de brincadeira "agora pode ir brincar lá fora que nem só de telas o mundo é feito". Em geral Lorena aceita bem que só tem uma hora de telas por dia, porque gosta de ler seus livros e de criar situações com seus brinquedos. Vi que ela saiu com cara de poucos amigos pra varanda mas fui terminar o jantar, sem pensar mais nisso.
Na hora de dormir, eu levei ela pra cama e fizemos nosso ritual de sempre: agradecer e falar de tudo que aconteceu naquele dia. Lá pelo meio da conversa, num tom de voz sem nenhum rancor, ela me diz: "mãe, na hora que você disse pra desligar a TV, eu fiquei com tanta raiva que fui lá fora gritar na almofada".
Na hora, pensei em todas as vezes que não pude falar pros meus pais o quanto eu tive raiva de alguma situação, porque fui ensinada pelo mundo que só havia duas opções: engolir e esquecer, fingir que estava tudo bem, ou explodir, piorando as coisas. Pensei em todas as vezes que não tive coragem de puxar uma conversa como essa, sobre como eu estava me sentindo, porque sei que ouviria um sermão.
E respondi: "vi que você saiu com uma carinha de raiva, e tudo bem. É normal sentir raiva das coisas que papai e mamãe falam às vezes. Eu te amo e obrigada por me contar".
A educação respeitosa ensina às crianças que a raiva não é boa nem ruim, é apenas uma emoção como todas as outras. O que fazemos com ela, a maneira que lidamos com isso enquanto adultos, vai traçar o caminho para que nossos filhos saibam o que fazer com essa emoção, de uma maneira que não prejudiquem suas relações, mas PRINCIPALMENTE, que não prejudiquem a si mesmos.