19/07/2024
Olhando para baixo e para o lado, não me deixava tocá-lo. Sabe aqueles bichinhos traumatizados? Igual. Se enfiou debaixo da mesa do meu consultório, teve um outro dia que ele até fugiu pela janela se escondendo por trás das folhagens que havia no fundo da mansão terapêutica no setor sul.
Traumatizado sem nunca viver qualquer trauma, ninguém mais podia com ele; os professores, coordenadores, não sabiam como lidar... Já havia sido taxado de vários codinomes. No meio disso tudo, eu via sua dor, respeitei o seu tempo, a sua vontade de não estar ali. Mas onde ele queria estar?
A sua alma estava em outro lugar, que era demasiado para um garoto de apenas 7 anos resolver.
Convoquei a sua mãe, e fomos para o campo olhar. Ela, filha adotiva, carregava uma profunda dor de sua mãe biológica, que sabia quem era, onde morava, mas não tinha coragem. Fugia na dor de encarar essa mulher que lhe dera a vida.
Depois que a encarou em nosso encontro, no campo da constelação, o garoto começou a melhorar, mas ainda não tanto. Passado algum tempo, uma parente a contatou, contando que a sua mãe estava hospitalizada.
Então, ela dormiu e teve um sonho que encontrava essa mãe, e elas se despediam. No outro dia, ela acorda com a notícia de que a mãe tinha partido.
Nesse momento, ela decidiu ir ao velório; foram ela e o filho, o garoto que tinha muitas dificuldades de se socializar, estava naquele lugar e entre aquelas pessoas “desconhecidas” como se estivesse em casa.
Depois desse dia, ele olhava nos meus olhos, e até me deu alguns abraços, e seguiu bem na sua vida.
Ontem, ela me mandou uma mensagem dizendo que um amigo dela comentou que queria constelar, e na hora, se lembrou de mim. Afinal, o garoto que uma vez tinha 7, já está com 18 anos, e ajuda crianças a treinar tênis, até ganhou um chocolate de um de seus alunos que é encantado nele. Vi na foto que ela me mandou, e complementou quando perguntei dele:
“É um homem incrível, justo, honesto e solidário. Obrigada, Giselle, nós a temos em um lugar muito especial em nosso coração.”
Moral da história: Rotular e condenar o que é difícil nunca ajuda tampouco cura.
Faz sentido a moral dessa história?