01/09/2021
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SOBRE SETEMBRO AMARELO E AS BOAS INTENÇÕES
Freud diz que a morte é um conceito abstrato sem nenhum correlativo no inconsciente. Isso quer dizer que não temos inscrição psíquica para a morte. Ou seja, quando alguém diz que quer morrer, essa pessoa não está mesmo querendo morrer, porque a gente não sabe o que é a morte, para querê-la. O que se apresenta como desejo de morte, então, é o desejo de cessar a dor, de parar o sofrimento, de estancar a angústia.
Em tempos em que medicamos quase tudo cedo demais, temos que tomar cuidado para não retirar do sujeito em sofrimento a possibilidade de fala. Os medicamentos, quando necessários, precisam atuar em favor de um trabalho psíquico.
No caso de um trabalho de análise, é preciso transformar sofrimento em palavra. É claro que falar de uma dor não é o mesmo que eliminá-la, por vez pode até aumentá-la temporariamente, mas é preciso apostarmos em algo. E uma vez que somos sujeitos de linguagem, afetados pelo outro, não há nada que nos segure na vida a não ser o laço com os outros. "Sentido da vida" é um verbo que se conjuga na relação com as pessoas.
É só na medida em que simbolizamos esse desejo de morte, que ele pode se transformar em desejo de vida... enquanto ela houver.
É preciso que haja escuta qualificada e muito cuidado na condução do tratamento.
A grande importância do setembro amarelo está na oferta de espaços para falarmos disso. Porque quando a angústia escoa pela palavra, ela já não tem a mesma força.
Então, meu pedido aqui é: cuidem com as "boas intenções" nesse setembro amarelo. Não basta papear um pouco inbox com alguém que está inundado em angústia. E, frequentemente, a tentativa de animar alguém, pode ter efeito contrário e a pessoa se sentir ainda pior e mais inadequada. Não encarnemos o "coach quântico da moda" com frases motivacionais que se tornam vertentes mortíferas do superego.
Recomendemos ajuda profissional a quem precisa!
Texto Ana Suy