01/06/2020
Perocão "Vila de Pescadores" Os pescadores de PEROCÃO, 1968.
Por via terrestre, sete quilômetros antes de chegar a Guarapari, deixe o asfalto, vire esquerda e siga pela estrada de terra que margeia o campo de aviação, até chegar a um arraial onde, à sua frente, está o entreposto. À direita, o Bar do Vovô e o ancoradouro de pequenas embarcações. Pelas ruas estreitas, homens queimados de sol levando cambões de peixes com arames e barbantes. Se parar um instante, receberá logo um "Oba" amigo de um maratimba que não hesitará em lhe contar suas aventuras de mar. Aí, antes de atravessar a velha ponte de madeira, você começa a travar amizade com a aldeia do Perocão, uma das coIônias de pescadores mais bonitas do litoral brasileiro.
O nome, de origem indígena, ninguém sabe precisar o significado e nem quando surgiu. Tempos atrás, alguém tentou mudar para Santa Mônica, mas não pegou. E Perocão ficou, desde a sua fundação pelo padre Anchieta, durante o trabalho de catequização.
Três quilômetros de praia (Una, Zabumba, Perocão), sem agência de correio, telefone, cartório, cemitério, sem padre, sem médico, este é o retrato da aldeia do Perocão, um amontoado de homens que encontram no mar, o seu ganha-pão.
Benedito, o Mudo. Alto, forte, testa queimada e vermelha de sol, alguns dentes de ouro brilhando na boca, calça caqui segura por cinto grosso, chapéu de palha e sapatos amarrados por cordas. É surdo de nascença, mas conhece os segredos do mar como poucos. Conhece os melhores pontos de pesca. Sua idade ninguém sabe. Afirmam uns que já passa dos 50. É o melhor pescador da região e já apontado como o "mais" da costa brasileira.
Baiano tem sua história no Perocão escrita com violência e coragem. Existia na colônia um conterrâneo seu, valente, que brigava com todos intimidando os demais pescadores. Um dia, vindo de Salvador, chegou o Baiano. Desafiado pelo valentão, com ele lutou durante três horas, numa briga feroz de facão. Sem uma gota de sangue derramada, o pescador venceu, e seu antagonista saiu do lugar debaixo de vaia e chicotadas. E Baiano virou o herói que é hoje.
capixaba