
19/07/2025
Na escuridão, Saturno o pai do tempo devora o próprio filho.
Não por maldade, mas por medo.
Medo do novo, do que cresce, do que escapa ao controle.
Seu gesto é cego.
É o instinto que perdeu o mito.
É o impulso sem imagem, sem palavra, sem símbolo que o contenha.
E assim também sangram as almas famintas.
Não por fraqueza, mas por não terem aprendido a nomear sua dor.
Por não terem espaço para elaborar o que pulsa.
Há quem chame de vício. Outros, de doença.
Mas e se for a alma gritando por algo que o mundo não oferece?
Jung nos lembra que somos atravessados por instintos, essas potências arquetípicas que nos impelem força bruta e sagrada ao viver. Mas, quando a vida nega seu curso simbólico, quando não há rito, nem travessia, nem linguagem... o instinto se agita. E explode em desmedida.
Na ausência de um caminho simbólico, o desejo transborda. A droga, o jogo, o s**o, o consumo tudo isso pode ser só o invólucro de um apelo mais profundo: a tentativa desesperada da psique de simbolizar sua dor, sua fome, sua orfandade interior.
Na dependência, não é só o corpo que anseia, é a alma que busca reencontrar sua imagem esquecida.
É o herói inflado que p**a o sacrifício. É Dionísio, rejeitado pela persona apolínea, que ressurge como sombra e caos. É a criança perdida que ainda espera ser acolhida pela Grande Mãe, mas encontra ausência ou ambivalência.
A compulsão não é fraqueza, mas sim um movimento espiritual mal traduzido. Talvez o vício seja o ritual que faltou, o simbolismo que não chegou, a fé que não teve lugar. A dependência nos mostra o que acontece quando não ouvimos os clamores simbólicos do inconsciente: a psique cria atalhos, mas eles cobram um alto preço.
E se, por trás do seu comportamento mais autodestrutivo, estiver a imagem mais ferida e mais sagrada de quem você é? E se, por trás do comportamento compulsivo, houvesse uma parte sua pedindo para ser ouvida não medicada, não anulada, mas acolhida? O que a tua alma faminta está de dizendo?