21/04/2025
A série Adolescência, foi uma explosão que atravessou tudo aquilo que deveria estar protegido: a escola, a família, os amigos, o Estado. A morte física foi apenas a face mais visível de muitas outras perdas.
Essa não é uma história sobre uma família "patológica". Eles trabalham, estudam, fazem o que se esperam. Justamente por isso, é tão difícil de engolir. Porque não há monstros, nem tragédias anunciadas. Há banalidade. Há ausência. Há silêncio.
O MUNDO DOS NOSSOS FILHOS ESTÁ ATRÁS DA PORTA
E, muitas vezes, nós nem passamos da porta. Confundimos reclusão com fase. Silêncio com paz. Fones no ouvido com saúde. E, na dúvida, preferimos não perguntar. Não tocar. Não insistir.
Jamie é o retrato vivo (ou quase) desse abandono sutil. Um adolescente, sensível, tímido, isolado. Invisível por ser calado. E ninguém percebe. Ou percebem tarde demais.
Na escola, tudo continua como se nada estivesse acontecendo. Não se fala sobre bullying, sobre racismo, sobre exclusão, sobre assédio moral. Não se nomeia o sofrimento. A família não sabe o que procurar. E a violência ocupa o espaço que o cuidado abandonou.
Na delegacia, o vazio se repete. Assustado, sem acolhimento. Policiais que não conseguem escutar. E, ironicamente, na escola,é o filho do policial quem vai até ele, quem o força a ver, quem o chama pra realidade — porque o adulto, mais uma vez, falhou em se aproximar.
Porque a culpa, aqui, não é só de uma pessoa. É de um sistema. De um modo de vida. De uma negligência coletiva.
Todos são responsáveis. E nós também.
Com nossas faltas, nossos silêncios, nossas distrações. Com o conforto de acreditar que estava tudo bem, porque ninguém gritou. Porque o boletim estava em dia. Porque o jantar foi servido.
Mas *Adolescência* não terminou nos créditos. Ela atravessou a tela e entrou nas casas. Muitos pais, depois de assistir, foram até os quartos dos filhos. Bateram na porta, se fazem presentes.
Presentes como? No olhar, nas perguntas, na escuta, nos elogios, no chamar pra jantar, no interesse...No reconstruir pedaço por pedaço do que foi perdido.
AINDA dá Tempo!
Sandra M Magalhães
Psicóloga