04/01/2024
Sinto-me um pouco mais preenchida de vida conforme o tempo passa. Assim como chegou - lentamente -, a depressão também vai embora como quem não tem pressa de saborear cada sensação que a vida já deu conta de experimentar, só que agora com um gosto novo.
Sair de um abismo que a alma chegou julgar eterno. Uma sensação de queda que nunca encontrava chão. Os dias escuros vieram e a solidão encontrou casa.
Aquilo tinha um gosto estranho, não era de todo ruim. A tristeza é a morada do meu ser. Foi nela que minha vida se fez. Estar nela é conhecido, é confortável. E me faz sentir. Sentir que estou viva, e que a vida é uma dor sem fim.
A escuridão tem colo de mãe. Só ela me acolhe nos sentimentos mais lamacentos. Foram incontáveis os dias em que somente ela era capaz de me compreender.
Voltar de lá já nem era mais desejo ou aspiração. Não havia possibilidade de mudança e perspectiva de futuro. A felicidade teve seu tempo, fez sua colheita e foi embora sem plantar mais nada. Era o que eu sentia.
Quem me puxou de volta? O que? De algum lugar os afetos começaram a se intensificar e fui sentindo-os penetrar em meus poros.
Saboreei o cuidado de amores pacientemente construídos, a presença de uma família amorosa, as palavras sensatas de amigos que simplesmente são.
Enxerguei caminhos que estavam soterrados, e agora abro com uma pá a terra que cobria tudo. Sem pressa, compreendendo que algumas rotas mudaram e que as travessias se transformaram junto comigo.
A tristeza permanece. Ela não vai embora, nem nunca irá. Virou potência. Sinto muita energia e uma enorme vontade de construir, conservar e valorizar afetos. Afinal, de que outra maneira haveria sentido, senão através deles?
A vida brotou das mais profundas entranhas. Sinto-a crescendo e me movendo. Há novos espaços para que ela se movimente, e venho abrindo caminhos. Não sei aonde me levarão, mas fico feliz em, finalmente, enxergá-los .