02/03/2024
A sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC) é uma síndrome caracterizada por sintomas intestinais e extra-intestinais relacionados à ingestão do glúten, em pessoas sabidamente não celíacas e não alérgicas ao trigo/glúten. O diagnóstico é realizado através da história clínica na maioria das vezes, já que há carência de marcadores sorológicos e nas biópsias intestinais específicos à doença.
O glúten é considerado o gatilho para o surgimento de sintomas! Mas, será que fatores emocionais e outros componentes do trigo poderiam estar envolvidos neste processo?
Um estudo recém publicado (Holanda) mostra que o surgimento de sintomas na SGNC pode ter relação com a expectativa da presença do glúten nos alimentos, e não com a realidade. Neste estudo, os pesquisadores ofereciam alimentos dizendo conter glúten, quando na verdade, não continham. Também faziam o inverso, oferecendo alimentos sem glúten, quando havia a presença da substância. Os resultados foram surpreendentes. Quando os pacientes com SGNC acreditavam que o alimento continha glúten, apresentaram mais sintomas, mesmo em alimentos glúten free. E quando comiam alimentos com glúten, achando que estavam seguros e comendo sem glúten, apresentaram menos sintomas!
Isso mostra uma questão emocional que pode estar relacionada ao quadro. Ou seja, um efeito placebo e nocebo. O efeito placebo se refere a acreditar que a comida era segura e sem riscos, mesmo contendo glúten. O efeito nocebo se referia a quadros em que a possibilidade do agressor estar presente, quando na verdade não havia glúten nos alimentos, gerava efeitos adversos. Profissionais precisam estar atentos a questões emocionais, já que o medo da presença do glúten ou algum risco, podem trazer sintomas, ansiedade, angústia e isolamento social, além de gerar sintomas.
Outra explicação para a presença de sintomas quando não havia a ingestão real de glúten era que alguns pacientes poderiam apresentar um quadro de Síndrome do Intestino Irritável (SII). Pacientes com SII são mais sensíveis ao açúcar do trigo, conhecido como frutano. Neste caso, os sintomas não seriam desencadeados pelo glúten, e sim por um açúcar! Além disso, alguns grãos contém um pesticida natural, que é tóxico para algumas pessoas, gerando sintomas. De novo, o glúten não era o vilão, e o pesticida poderia ser o causador de problemas.
Uma pesquisa realizada na Noruega já mostrava esta confusão entre glúten e frutano. Ao oferecer barras de cereal contendo glúten e outras com frutano, pacientes que se declararam anteriormente como sensíveis ao glúten, só referiam sintomas ao ingerir as barras de frutano! Sabemos que entre 20 a 40% dos pacientes com SGNC, na verdade, cumprem todos os critérios para o diagnóstico de SII! Diagnósticos precisos precisam ser realizados, possibilitando tratamentos com melhores resultados, menos consequências emocionais e orientações alimentares mais corretas.
Precisamos estar atentos a todos os aspectos químicos dos alimentos, biológicos do nosso organismo e às armadilhas das nossas mentes!