02/09/2014
DEFINIÇÃO DA DOENÇA – TUBERCULOSE
Doença de evolução aguda, subaguda ou crônica que compromete vários órgãos e sistemas, em especial
as vias aéreas inferiores. No Brasil, resulta da infecção pelo Mycobacterium tuberculosis, transmitida geralmente por
inalação, e pelo Mycobacterium bovis, veiculada por ingestão de material infectante. É classif**ada em pulmonar e
extrapulmonar, nas formas serosa, miliar, úvea, meningoencefálica, linfonodal, hepática, intestinal, renal, supra-renal,
osteoarticular e da coluna vertebral.
O período de incubação é de 4 a 12 semanas após a infecção, com desenvolvimento de reação tuberculínica
positiva. A maioria dos casos novos da doença ocorre em 6 a 12 semanas após o período de incubação. É transmissível
enquanto o doente estiver eliminando bacilos. Após o início da terapêutica, em duas semanas, os bacilos tendem a não
ser mais infectivos.
2 EPIDEMIOLOGIA – FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL CONHECIDOS
No mundo, estima-se que cerca de um bilhão de pessoas têm tuberculose ativa,com 8 milhões de casos
novos por ano e 3 milhões de mortes anuais. A tuberculose ocorre:
• na infecção primária, devido a número excessivo de bacilos e/ou à diminuição da capacidade de resposta
imunológica do hospedeiro. Há desequilíbrio imunológico desfavorável ao hospedeiro;
• na recrudescência, o que ocorre em cerca de 10 a 15% dos infectados, em metade deles nos primeiros 2
anos após a infecção inicial. Em geral, deve-se à redução da capacidade de resistência do hospedeiro e
secundariamente a uma nova carga de infecção por reativação endógena. Em meios de alta prevalência
do agente, novas cargas infectivas exógenas podem desempenhar papel importante na tuberculose
DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO
MANUAL DE PROCEDIMENTOS PARA OS SERVIÇOS DE SAÚDE
62 CAPÍTULO 6
secundária.A infecção pode também ser determinada por cepas mutantes de bacilos mais virulentos com maior
capacidade multiplicativa, ou por multidr**as resistentes, associada ou não à imunodeficiência (associada ao
uso de corticosteróides, antiblásticos, radioterapia, a doenças de imunodeficiência como na AIDS).
Em determinados trabalhadores, a tuberculose pode ser considerada doença relacionada ao trabalho, do
Grupo II da Classif**ação de Schilling, posto que as condições de trabalho podem favorecer a exposição ao M. tuberculosis
ou ao M. bovis, como no caso de trabalhadores em laboratórios de biologia e em atividades que propiciam contato
direto com produtos contaminados ou com doentes bacilíferos.
Em trabalhadores expostos a poeiras de sílicae/ou portadores de silicose, a tuberculose e a sílico-tuberculose
deverão ser consideradas como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo III da Classif**ação de Schilling, uma vez
que tem sido demonstrado, clínica e epidemiologicamente, que a exposição à sílica pode favorecer a reativação da
infecção tuberculosa latente, pois os cristais de sílicano interior dos macrófagos alveolares deprimem sua função
fagocitária e aumentam sua destruição.
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
Há grande variabilidade clínica, desde casos assintomáticos, insidiosos e oligossintomáticos, em que o
paciente não sabe determinar com precisão o início da sintomatologia, até repercussões importantes agudas, subagudas
ou crônicas. O quadro clínico caracteriza-se por tosse, inicialmente pouco produtiva com expectoração progressivamente
mais intensa e amarelada, com hemoptóicos ou hemoptise (pouco freqüente), dispnéia, dor torácica, perda ponderal,
febre e sudorese (geralmente vespertina ou noturna). A dor pleurítica pode resultar da infecção da pleura parietal
associada, freqüentemente, com a presença de derrame nesta cavidade serosa.
Critérios diagnósticos para tuberculose pulmonar:
CLÍNICA SUGESTIVA;
RADIOGRAFIA DETÓRAX: mostra acometimento predominante dos segmentos superiores e posteriores dos pulmões,
caracterizados por infiltrados reticulonodulares, adenopatias mediastinais, cavitações de paredes espessas,
lesões acinares, miliares, pleurais, ativas e seqüelas, inclusive com retração do parênquima, com perda de
estrutura pulmonar, encarceramento;
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA: expande a visão radiográf**a e pode revelar lesões não perceptíveis à telerradiografia,
inclusive a presença de lesões suspeitas de neoplasia localizadas em áreas de neoformação conjuntiva e
fibrose;
TESTE TUBERCULÍNICO(PPD): resultado maior ou igual a 10 mm (reator forte). O teste tuberculínico é indicado como
método auxiliar no diagnóstico da tuberculose em pessoas não vacinadas com BCG. O teste positivo,
isoladamente, indica apenas infecção e não, necessariamente, a doença tuberculose;
BACTERIOLOGIA E ESTUDO ANATOMOPATOLÓGICO: de secreções pulmonares (no escarro, em pelo menos 3 amostras), outros
fluidos orgânicos (aspirado traqueobrônquico, lavados broncoalveolar e gástrico), material de biópsia, em
exame direto, cultura ou injetado em animal de experimentação, permitem o diagnóstico definitivo pelo
encontro do agente ou por intermédio de técnicas de PCR ou amplif**ação de cadeia de ácido nucléico.
Os critérios diagnósticos para tuberculose extrapulmonarsão específicos para cada localização, por meio
da identif**ação do agente em exame anatomopatológico, histológico e citológico.
Critérios para confirmação do diagnóstico de tuberculose pulmonar:
POSITIVO: duas baciloscopias diretas positivas, uma baciloscopia direta positiva e cultura positiva, uma baciloscopia
direta positiva e imagem radiológica sugestiva de tuberculoseou duas ou mais baciloscopias negativas e
cultura positiva;
NEGATIVO: duas baciloscopias negativas, com imagem radiológica suspeita e achados clínicos ou outros exames
complementares (biópsia) que permitam ao médico efetuar um diagnóstico de tuberculose pulmonarou
extrapulmonar(pleural, ganglionar periférica, osteoarticular, genitourinária, meningoencefálica e outras).
O diagnóstico diferencial deve ser feito com o abscesso pulmonar por aspiração, pneumonias, micoses
pulmonares (paracoccidioidomicose, histoplasmose), sarcoidose e carcinoma brônquico, entre outras patologias. A
adenomegalia mediastinal possui como diagnóstico diferencial principal o linfoma.
DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO
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CAPÍTULO 6 63
TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS
O tratamento deve perdurar por 6 meses (2 meses de doses diárias de rifampicina, isoniazida e pirazinamida,
seguida de 4 meses de doses diárias de rifampicina e isoniazida). A baciloscopia deve ser realizada mensalmente após
o início do tratamento. Nos pacientes com lesões pulmonares, inicialmente positivos, a alta por cura comprovada será
dada quando, após completar o tratamento, o paciente apresentar duas baciloscopias negativas. A alta por cura não
comprovada ocorrerá se, ao completar o tratamento, o paciente não tiver realizado as baciloscopias para encerramento
do caso. Nos pacientes com lesões pulmonares inicialmente negativas ou extrapulmonares, a alta por cura será dada
quando for completado o tratamento e com base em critérios clínico-radiológicos.
Considera-se falência do tratamento quando persiste a positividade do escarro ao final do tratamento
correto ou quando os doentes fortemente positivos (escarro: ++ ou +++) mantêm-se assim até o 4.º mês ou com
positividade inicial seguida de negativação e nova positividade por dois meses consecutivos, a partir do 4.º mês de
tratamento. O aparecimento de poucos bacilos (+) no exame direto de escarro, na altura do 5.º ou 6.º mês, isoladamente,
não signif**a, necessariamente, falência do esquema, e o paciente deverá ser acompanhado com exames bacteriológicos
para melhor definição.
Seqüelas da doença e/ou do tratamento e disfunções progressivas poderão ser observadas nos pacientes
portadores de imunodepressão grave ou de risco permanente, como em portadores da AIDS, de neoplasias, com
insuficiência renal crônica, silicose, paracoccidioidomicose, usuários de corticoterapia prolongada, tuberculose crônica
multirresistente e outros. Os portadores de doenças que interferem no sistema imunológico, como diabéticos,
gastrectomizados, etilistas, dependentes de dr**as, os que apresentaram evolução arrastada com demora de
negativação do escarro, os que abandonaram ou tomaram dr**as de maneira irregular, entre outros, têm maior
probabilidade de apresentar sequelas e/ou disfunções prolongadas.
PREVENÇÃO
A vigilância dos casos de tuberculose relacionada ao trabalhodeve seguir os procedimentos indicados na
introdução deste capítulo. A tuberculose é uma doença de notif**ação compulsória e investigação obrigatória.
As medidas específ**as de controle baseiam-se nas medidas educativas e de divulgação de informação,
vacinação, diagnóstico precoce e tratamento adequado. Estão indicados:
CONTROLE DE COMUNICANTES: indicado, prioritariamente, para comunicantes que convivam com doentes bacilíferos e
adultos que convivam com doentes menores de 5 anos, para identif**ação da possível fonte de infecção;
VACINAÇÃO BCG: crianças na faixa etária de 0 a 4 anos, com revacinação em idade escolar. Vacinar os trabalhadores de
saúde não reatores à prova tuberculínica;
QUIMIOPROFILAXIA: recomendada em comunicantes de bacilífero, menores de 5 anos, não vacinados com BCG, reatores
à prova tuberculínica, com exame radiológico normal e sem sintomatologia clínica compatível com
tuberculose; pessoas infectadas pelo bacilo (quimioprofilaxia secundária), ou não, (quimioprofilaxia primária)
na dosagem de 10 mg/kg/dia (até 400 mg) de isoniazida, por um período de 6 meses. Recém-nascido
coabitante de foco bacilífero: administra-se a quimioprofilaxia por 3 meses e, após esse período, faz-se o
PPD. Se ele for reator, mantém-se a isoniazida até completar 6 meses; se não for reator, suspende-se a
droga e aplica-se a vacina BCG; viragem tuberculínica recente; soropositivos para HIV, nos seguintes
casos: comunicantes de bacilífero, menores de 5 anos, comunicantes intradomiciliares ou institucionais de
pacientes bacilíferos, independentemente de prova tuberculínica; reatores ao PPD (5mm ou mais) e
assintomáticos; não reatores ao PPD (induração menor de 5mm), com CD4 menor que 350 células/mm ou
linfócitos totais menor que 1.000 células/mm
portadores de lesões radiológicas cicatriciais ou com registro
documental de ter sido reator ao PPD. Comunicantes intradomiciliares de bacilíferos e imunodeprimidos
por uso de dr**as ou por doenças imunossupressoras, sob criteriosa decisão médica;
EDUCAÇÃO EM SAÚDE: esclarecimento quanto aos aspectos importantes da doença, sua transmissão, prevenção e seu
tratamento.
Recomenda-se a verif**ação da adoção, pelo empregador, de medidas de controle dos fatores de riscos
ocupacionais e acompanhamento da saúde identif**adas no PPRA (NR 9) e no PCMSO (NR 7), facilidades para o
cumprimento das Normas de Precauções Universais
, além de outros regulamentos – sanitários e ambientais – existentes
nos estados e municípios. O exame periódico de saúde de trabalhadores expostos, parte do PCMSO, deve incluir
protocolos padronizados visando à detecção precoce da doença e, se necessário, à pesquisa de bacilo BAAR em
escarro e teste cutâneo (PPD).