
23/05/2025
🚼 Bebês Reborn e as Feridas Emocionais que Não Vemos
Nos últimos tempos, vídeos de pessoas cuidando de bebês reborn — bonecos hiper-realistas tratados como recém-nascidos — têm gerado debates, julgamentos e até escárnio nas redes sociais. Mas, como psicóloga clínica e terapeuta do esquema, convido você a olhar para além da aparência e refletir: o que esse comportamento revela sobre nossas dores emocionais mais profundas?
Na Terapia do Esquema, compreendemos que experiências emocionais precoces moldam nossos padrões afetivos e de funcionamento. Quando necessidades básicas da infância — como conexão, afeto, segurança, validação — não são atendidas, criamos esquemas disfuncionais e modos de enfrentamento para sobreviver emocionalmente.
Para algumas pessoas, cuidar de um bebê reborn pode representar uma forma simbólica de reparar essas feridas: dar ao outro (ou a si mesmo, de forma indireta) o cuidado que faltou. Pode ser um gesto de amor interno, uma tentativa de acessar sua própria criança vulnerável, ou mesmo uma maneira de elaborar lutos não reconhecidos, como a perda de filhos, gestações ou da própria infância.
Esse comportamento, em alguns contextos, pode ser saudável: quando não substitui totalmente os vínculos reais, não prejudica a vida funcional e é vivido com consciência.
Por outro lado, quando esse cuidado simbólico se torna a única forma de preenchimento emocional, isola a pessoa do mundo e encobre um sofrimento profundo que ela não consegue elaborar, é um sinal de alerta. Nesse ponto, é essencial um olhar terapêutico acolhedor, que ajude a compreender o que está por trás da conduta.
Vivemos em uma sociedade que ensina a performar, mas não a sentir. Que julga com facilidade, mas não escuta com empatia. E isso diz muito sobre o quanto ainda estamos desconectados do nosso mundo interno.
Cuidar da saúde emocional é urgente. Porque adultos emocionalmente negligenciados continuam tentando sobreviver em silêncio — até que o silêncio se torne insustentável.
Quanto mais conscientes estamos das nossas feridas, mais chances temos de quebrar ciclos e sermos humanos mais saudáveis — individual e coletivamente. 🌻