12/10/2021
O brincar na era digital:
Houve um tempo em que se brincava com objetos. Estes objetos exigiam imaginação, coordenação motora, diálogos solitários e se acompanhados: diálogos, relações, negociações. Segundo Aberasturi, “ Ao brincar a criança desloca para o exterior seus medos, angústias e problemas internos, dominando-os por meio da ação.” Freud falou disso ao descrever a brincadeira do neto que jogava um carretel preso a uma linha para fora do berço ( Fort Da) elaborando a separação da mãe. Esse brincar implica um corpo, brincar de tambor com a barriga, salada mista, passa anel... Quem nunca? Talvez a nova geração. São bebês de babá digital que emitem uma voz que não muda o ritmo conforme a reação do bebê, e que não muda a fisionomia em resposta ao seu sorriso ou não reagem a seu choro.
Uma geração super estimulada. Mais inteligente? Não se sabe. Mas com certeza com mais diagnóstico de TDAH. F**ar na frente do celular, do computador, do tablet, fragmenta a atenção e diminui as demandas das crianças para com a família, mas também pela vida: um corpo que se mexe menos e consequentemente mais rechonchudo, ou mais magrinho porque o tempo que ficou sentado acumulou energia demais que precisa ser gasta de modo que os adultos não conseguem acompanhar, adultos que querem ou precisam dar conta de coisas diante de suas telas ou em suas vidas sem bordas.
As crianças da era digital, tem muitos amigos virtuais mas tem, muitas vezes, dificuldades para se relacionar com as crianças da vida real, com os conflitos da relação que não dá para excluir, deletar ou cancelar, essas relações que são de verdade que necessitam ser exercitadas para um amadurecimento das habilidades sociais.
A criança digital, precisa de brinquedo analógico, crianças de verdade para brincar, experiências para além da tela, e brinquedos que possam tocar, e um olhar que respondam o seu olhar e uma voz que não seja robotizada para se tornar um sujeito do desejo, ou para que consigam minimamente sustentar ser sujeito nessa era de telas que brilham, relacionamentos a distância, isolamento social e um número absurdo de crianças medicalizada.
Feliz dia das crianças, e aquele desejo imenso de que elas possam ganhar brinquedos, brincadeiras, conversas, abraços e cosquinhas que sejam de verdade.
Aberastury, A . A criança e seus jogos. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
Freud, S. Além do principio do prazer. , V. XVIII. !920. Imago Ed: Rio de janeiro, 1976.
Batista, A e Jerusalinsky, J. Intoxicaçôes Eletronicas na era das relações digitais. Salvador: Álgama, 2021.
Dunker. C. Reinvenção da intimidade-politicas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu editora. 2017.