24/09/2020
O que é integração psicodélica?
É um processo que visa “digerir” e dar sentido às situações vivenciadas durante as experiências psicodélicas visando a assimilação da experiência. A integração propõe que os conteúdos que o sujeito teve contato durante a experiência com psicodélicos (sejam a nível perceptivo, físico ou cognitivo) sejam integradas como um todo ao self. Ao contatar de forma plena e aberta o vivido, as novidades assimiláveis são agregadas e as não assimiláveis rejeitadas.
Os dias seguintes ao consumo são muito importantes para avaliar se aquele uso foi de
fato seguro. É recomendado dar tempo e espaço para pensar sobre o que foi vivenciado e estar aberto para as informações obtidas, se permitindo aprender/mudar com elas. Em alguns casos, uma experiência psicodélica despretensiosa pode resultar em mudanças profundas, quase por acidente. Mas, para muitos, para que haja uma transformação profunda ou aquela experiência seja de fato terapêutica, é preciso integrá-la (Roseman, Nutt, & Carhart-Harris, 2018). Para os estudiosos dos Estados Alternativos de Consciência, a função terapêutica da experiência psicodélica só acontece quando há a integração desta, quando o sujeito se torna aware do vivido e experienciado e assimila aquelas informações à consciência (James, 1991; Grof, 1990).
Os conteúdos que são acessados a partir da experiência com os psicodélicos não são
ressignificados ou integrados ao self puramente pela ação farmacológica da substância. Para tal, é necessário uma postura ativa do sujeito frente a experiência - antes, durante e
principalmente depois desta.
Diversas ações podem ajudar nesse processo, como meditação, escrita, leitura, ir à
natureza, conversar com pessoas sobre a experiência etc. Integrar a experiência pode ajudar a diminuir os riscos do uso de psicodélicos, uma vez que muitos desses riscos são oriundos de sentimentos, pensamentos e informações que são acessados de forma muito intensa e rápida e podem gerar “sobrecarga”. O contato brusco com conteúdos que o self não está acostumado pode ser difícil de lidar.
A importância desse processo tem como base a crença na autorregulação organísmica, na qual o sujeito que vivencia a experiência, melhor do que ninguém, poderá refletir e apreender o melhor para o seu crescimento pessoal.
Também, é uma construção no sentido de dar continuidade ao processo direcionado à totalidade, de agredir a experiência como um todo (assim como suas partes) para digerir e assimilar à personalidade o que o self pode e desconsiderar o que não será útil. Engolir aquela experiência sem refletir, introjetando as percepções e valores oriundos da experiência psicodélica pode distanciar a personalidade de uma postura autêntica e de um reconhecimento do organismo como um todo (Perls, 2002). Uma integração “adequada” perpassa uma compreensão consciente e afetiva dos conteúdos e da percepção sobre a experiência.
O psicoterapeuta pode ajudar nesse processo atuando seja na clínica individual, na clínica ampliada ou no trabalho de grupo. A ênfase está na postura ética e na relação terapêutica que se desenvolve.