10/08/2024
O DIA QUE PAREI DE PENSAR NO FUTURO
Como quem me acompanha aqui há algum tempo sabe, há 4 anos tive o diagnóstico de esclerose múltipla. Junto com o diagnóstico, veio toda a incerteza em relação ao futuro. Eu teria alguma debilidade física? Conseguiria continuar trabalhando sem dificuldade? Voltaria a ter alterações na voz, como da primeira vez (e graças a Deus, a única até hoje) que tive crise?
As incertezas no futuro me assombravam e me deixavam preocupada. Como nunca fui de manter sofrimento para o que não tem remédio, lidei com minhas angústias e vivi minha vida, mas sempre com aquela pulga atrás da orelha.
Até que, algum tempo depois, assisti sem querer a saída do corpo de Marília Mendonça do avião em que se acidentou e tirou sua vida (literalmente sem querer, pois até o momento todos acreditavam que ela sairia com vida). E aquilo mudou tudo pra mim.
Acidentes de avião são cruéis. É o tipo de morte que nos faz pensar em destino, nos desígnios de Deus e como eles são imprevisíveis. E pensar em uma mãe de família tinha saído de casa para trabalhar, como eu saio sempre, fazendo dieta no avião depois de todos terem acompanhado uma luta constante contra a obesidade, imaginando que daqui algumas horas estaria em casa novamente com sua família, como eu imagino toda vez que eu saio de casa para trabalhar, me fez constatar o quanto é inútil me preocupar com o amanhã. Ontem, Sarah, uma colega doce, sensível, inteligente, pesquisadora em nossa especialidade e fruto da casa que também me formou (USP RP), saiu de casa como num dia qualquer, e não mais voltou. Poderia ter sido eu, ou você.
O amanhã nunca irá existir. Ele vem se ele vier. Se ele não vier, e hoje? O que eu fiz hoje? Como eu vivi hoje? Se eu morrer amanhã, eu estarei feliz com a vida que eu tenho hoje?
A minha resposta é sim, COM CERTEZA. E a sua?