06/11/2025
Desde que comecei a fazer mestrado e a me interessar verdadeiramente por pesquisas, tenho me perguntado constantemente a que serve a ciência. Não é novo para ninguém o fato de que o discurso científico é endereçado a um público muito específico. Ele tem cor, tem gênero, classe social e opera para um fim também muito determinado.
Ao mesmo tempo, escrevendo minha dissertação sobre o silenciamento de pessoas LGBT+ na clínica contemporânea, por exemplo, tenho percebido que ocupar esse lugar é muito mais do adquirir um título. Tem também a ver com poder colocar a minha voz e as minhas ideias em lugares que não foram feitos para minha voz e as minhas ideias estarem. É neste ponto que vira e mexe me sinto fazendo política.
Rogers foi um excelente pesquisador. Conseguiu, através da ciência (e de todos os privilégios que gozava, claro) fazer uma certa revolução no modo de pensar de uma época. Seus estudos contribuíram com legitimar, por exemplo, a psicoterapia como um lugar para nós, profissionais da psicologia.
Tenho pensado, atualmente, que talvez seja possível ocupar a academia a partir de uma outra lógica. Que não seja para controlar o comportamento das pessoas, nem reafirmar a hegemonia de alguns padrões. Não sei se estou sendo utópico ou esperançoso demais, mas eu realmente tenho pensado a respeito disso.
Será que podemos ocupar o lugar científico para dizer e validar outras experiências historicamente apagadas da nossa cultura? Será que podemos fazer outra rota, ainda que a academia seja apenas uma bolha de privilégios? Será possível fazermos alguns furos no grande muro que separa a ciência da realidade concreta das pessoas na nossa sociedade? É possível pensar a ciência como afirmação ético-política também? Se a ciência retém o discurso de poder, poderíamos nós, vindo das margens, dizer alguma coisa através delas? São muitas perguntas e reflexões. E poucas respostas. Mas será que ciência não tem mais relação com a pergunta do que de fato com a resposta? O que temos perguntado, sobretudo nós, psicólogas e psicólogos humanistas? Do que temos nos ocupado nos espaços acadêmicos? Sabemos nós, da clínica, realmente ler fenômenos sociais e históricos??? (…)