18/05/2025
Bebês de mentira e adultos fictícios: o adoecimento por trás da recusa da realidade
Como o universo é composto por dualidades, é natural que bom e ruim coexistam como forças em alternância. Nesse sentido, talvez o lado “positivo” do fenômeno dos bebês reborn — bonecas hiper-realistas que simulam bebês humanos — seja o fato de que muitas crianças reais deixam de nascer de pais profundamente desconectados da realidade. E essa, convenhamos, é uma realidade trágica do ponto de vista psíquico.
O nome já diz muito: reborn, ou “renascido”. Bonecas reinventadas, reconstruídas a partir de outras já existentes. Mas por que essa adesão tão intensa a seres que simulam humanidade sem realmente sê-la? Parece um sentimento puxado por outro, mais profundo: a necessidade de criar uma realidade paralela, uma bolha pós-contemporânea onde tudo é mais fácil do que a vida real, essa mesma que é áspera, dura e, em muitos contextos, quase intransponível.
Vivemos um tempo que celebra o desejo como direito, mas rejeita o seu contraponto necessário: o dever da renúncia. Um tempo de adultos infantilizados, que desejam comprar o doce sem gastar as moedas. Criar uma “criança” que parece criança, sem sê-la, sem o trabalho real, sem o cansaço, o medo, a entrega, o cuidado. Realidade ficcional, surreal, prazerosa — mas sem ônus. E isso tem um preço.
O problema é que o real do lado de fora não é metafísico. É físico, emocional, exige enfrentamento. É carne, é choro, é ausência de controle. E diante do impacto dessa realidade bruta, muitos se espantam a tal ponto que preferem desistir da vida.
Estamos diante de um fenômeno psíquico e social que merece atenção, escuta e coragem. Porque, em nome da suavidade artificial, podemos estar empurrando o humano cada vez mais para fora da própria humanidade.