27/08/2024
Eles chegam: alguns sem saber o que falar, outros com o discurso pronto, alguns sem acreditar na vida, outros querendo saber mais dela, uns marcados por alguma perda que o paralisou, outros porque alguém disse que era bom.
São infinitas e diferentes as razões que levam alguém a buscar uma análise, e, alguma coisa, que chamamos de transferência, liga o analisando á aquele analista que inicialmente era um estranho, e então algo se amarra ali.
Alguns vem uma vez só, outros várias, e outros tantos, por meses, anos. Os que escolhem encarar uma análise, ouso dizer a partir da minha própria análise, podem ver a vida (a mesma vida) de outro jeito. É isso que faz uma análise acontecer, um sujeito apostando que tem algo ali, que pode mudar o rumo das coisas… e nessa aposta entra o analista.
Como analista, testemunhamos provavelmente alguns dos momentos mais difíceis de alguns analisandos, choros desesperados e desesperançosos da vida, perdas de entes queridos, pessoas repensando escolhas e relacionamentos. E também presenciamos conquistas, as ˜primeira vez˜ de muitas coisas que antes pareciam tão distantes, vemos o signif**ante que era parasitário e o definia perdendo a força, e a gente está lá, atrás do divã, vibrando em silêncio. Sustentamos o silêncio. Escutamos a dor. Transitamos pela mesma cena de diversos ângulos, e, por meio de intervenções, abrimos para o discurso, possibilitando a cadeia signif**ante se movimentar. Interrogamos, partimos palavras ao meio, colocamos vírgula ou interrogação onde era um ponto final.
Oferecemos nossa presença, uma presença com ausência (necessária). Afinal, se fazer presente é diferente de preencher o vazio desse outro. Para escutar é preciso se ausentar: uma presença ao estar ali mas uma ausência que deixa um espaço, um vazio, para que esse que se queixa possa construir contornos ao seu vazio.
Eu escuto pessoas todos os dias, e, nesse percurso, vejo criarem saídas, vejo eles adicionarem novas palavras às mesmas histórias, e acreditem, isso muda - e muito -o rumo das coisas.
Aos que tiveram passagem pela minha escuta e aos que ainda estão: Obrigada! Apostem no seu percurso.