18/05/2025
Soberba e Humildade no Equívoco do Ego
— Entre raízes antigas e ruídos modernos
Outro dia pensava em palavras que carregam histórias mais longas do que as versões apressadas que usamos para julgamentos. Soberba e humildade foram elas.
Soberba, por exemplo, vem da raiz superbus: aquilo que se eleva, que se distingue; não por vaidade, mas por inteireza. Humildade, por sua vez, nasce de húmus, a terra que nutre, o chão que sustenta. Ser humilde era, originalmente, reconhecer-se parte, saber-se enraizado, finito e fértil.
Mas houve mudanças semânticas nessas palavras, e a partir da Idade Moderna passaram a habitar extremos. Soberba virou pecado, ruído, ego inflado; humildade, autoanulação disfarçada de virtude.
Na contemporaneidade, onde as relações interpessoais estão moldadas por redes sociais e com uma estética narcísica de performance, a distorção se acentuou.
Há um medo sutil - mas profundo - em simplesmente ser inteiro. Ser inteiro passou a parecer perigoso: pode soar arrogante, pode parecer demais, pode ser cancelado. E então, muitos se retraem, desfiguram seus contornos em nome de aceitação ou pertencimento; passam agora a confundirem humildade com apagamento.
Porém, há também a soberba da inteireza forçada: uma altivez exibida, quase impositiva, que tenta convencer os outros de uma autonomia absoluta; autoafirmação sem escuta, sem relação com o outro, sem chão comum. E isso também adoece porque o exagero do eu isola, tanto quanto a sua ausência.
Esses dois polos - o excesso e a negação - nascem do mesmo lugar: o equívoco do ego, que tenta controlar como será visto, amado e aceito. Só que nessa tentativa, perde a espontaneidade, e com ela, a saúde emocional promovida pela tensão constante, o estresse.
Lembrar que é possível estar inteiro sem imposição. Ser humilde não é se encolher, mas se saber parte de algo maior, sem o abandono de si.
Quando a soberba reencontra sua nobreza e a humildade sua inteireza, o ego pode, enfim, repousar. E nesse repouso, talvez algo mais verdadeiro possa emergir, menos preocupado em parecer e bem mais disposto a simplesmente viver.
Ommm