12/05/2024
Hoje tomei meu café emocionada pois lembrei que a muitos anos eu não tomava esse café tão especial do dia das mães com minha mãe. Fiquei pensando em quantas vezes, desde que me tornei mãe, já escutei a frase “não pause sua vida pelos filhos pois eles um dia crescem” ou alguma variação dela, repetida, ainda que não intencionalmente, como uma forma disfarçada de menospreza a dedicação materna. Se cria filho pro mundo, todo mundo diz. As asas, as benditas asas. Eu sei, você sabe. Não pausar a vida. Ideia curiosa essa já que ser mãe é viver eternamente de pausas. Por 9 meses (ou mais) a gente pausa o vinho. Por aproximadamente 40 dias a gente pausa a vida sexual. Por muitas e muitas noites a gente pausa o sono. A gente pausa a reunião de trabalho, a ligação importante. A gente pausa a poupança porque juntar dinheiro f**a difícil. A gente pausa as refeições e os banhos. A gente pausa os planos de viagens, as saídas com as amigas, as idas ao cabeleireiro. A gente pausa o coração na preocupação e a gente pausa a própria vida pra respirar a deles.Criar para o mundo. O que isso seria? Suponho que minha mãe me criou “para o mundo,” sempre me dando asas. Fui morar sozinha com 17 anos aos 18 passei no vestibular e continuei sozinha por mais alguns anos. Fui conquistando esse mundão para o qual ela me criou. Mas a verdade é que eu nunca deixei de ser dela. Um pedaço dela. Um produto dela. Tão dela que mesmo com mais de 40 anos, eu ainda preciso que ela pause a vida dela por mim. E ela pausa. Me acolhe, me dá colo, conselhos, chora e ri comigo. Ela pausa com a generosidade de quem é acostumada a pausar e doar e amar e amar e amar.Então eu penso, enquanto tomo meu café hoje ao lado dela e do meu filho, que filhos não são do mundo. Nossos filhos são nossos! Eles vieram da gente e voltam pra gente de novo e de novo. Mesmo estando longe, eles são nossos. Nossos pedaços. Nossos produtos. Os produtos de todas as nossas pausas. Porque é na pausa que fortalecemos o vínculo, é na pausa que construímos as memórias. É no pausar da vida, nesse incessante viver pelo outro, em meio às dores e sacrifícios que, como mulheres, muitas vezes nos vemos plenas; e mais do que isso, nos vemos mães.