08/05/2025
Essa terça foi um momento muito importante na minha história: eu dei voz alta a dor da minha criança interior!
Quando adolescente meu pai falava: "se você for pra política, vão te matar", insinuando que eu "falava demais". Suspeito que esse alerta não era uma preocupação com a minha segurança, mas sim, com a minha voz ecoando as violências que ele mesmo provocava.
Eu fui entender que meu pai me molestava somente aos 23 anos, no puerpério...quando li um livro chamado "Metade do Céu".
Meu mundo caiu quando eu entendi que aquele que devia ter me protegido, foi o que mais me causou danos físicos, emocionais e s3xuais.
Os episódios ocorreram dos 12 aos 19 anos, só parando depois que arrumei meu primeiro namorado. Eu sabia que tinha algo errado, me incomodava ser assediada, mas eu não entendia a gravidade daquilo. Guardar tudo só pra mim foi sufocante por anos. Eu não queria que me achassem uma "coitadinha" ao ficar reclamando do meu pai, afinal, todos já sabiam do nosso sofrimento com o alcoolismo dele.
A primeira vez que falei sobre isso em um Círculo de Mulheres (em 2016) foi libertador, me senti acolhida e cuidada. Infelizmente também descobri nesse dia que pelo menos 70% das mulheres ali presentes também já haviam passado por algum abuso s3xual.
Muitas coisas aconteceram nesses 8 anos... a terapia me ajudou a sobreviver. Entender sobre s3xualidade e Ta**ra me permitiu voltar a sentir prazer, amar e g***r. Me tornar terapeuta e cuidar de mulheres me deu um propósito de existir. Ensinar Ta**ra me ensinou a ter mais sabedoria e compaixão. E maternar me dá todos os dias uma razão para continuar lutando contra a violência s3xual.
É por isso tudo que eu não pensei duas vezes ao apoiar essa PL proposta pelo Cardume. Eu senti medo das vozes que ainda ecoavam dentro de mim, tive crise de ansiedade na terça o dia todo..mas eu consegui falar depois de 20 anos. Eu falei e eles me ouviram. Falei e vocês estão me enchendo de amor e carinho.
Espero que as crianças também possam ser acolhidas com o respeito e a amorosidade que eu recebo hoje. Espero que as vozes ecoem até o dia em que a Cultura do Estupr@ seja vencida.