Jung em palavras

Jung em palavras Página dedicada ao pensamento de C. G. Jung e à psicologia analítica em geral. Perfil criado e gerenciado por Eliane Moraes - Psicóloga Clínica.
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"Sempre que Deus consegue criar um Fausto, o diabo calculista vai e solta cem mil filisteus culturais do inferno para qu...
09/07/2025

"Sempre que Deus consegue criar um Fausto, o diabo calculista vai e solta cem mil filisteus culturais do inferno para que eles, com sua infinita preguiça grudenta, se pendurem no paletó e segurem o Fausto, que está 'determinado a emergir desse mar do absurdo'. Preguiça, covardia, teimosia e falta completa de qualquer 'necessidade metafísica' caracterizam o filisteu cultural. Aos domingos, suas multidões ocupam as igrejas e proclamam palavras, ações e pensamentos edificantes. À tarde, ele é amoroso, educado e bom. À noite, ele finge entender de música ou vai passear na natureza e busca a paz interior no livro aberto da criação. Na maior parte do tempo, seu humor é edificante, e ele é dominado por uma forte consciência de responsabilidade. Além disso não existe nada, e lá começa o grande vazio. Nenhum sinal de vitalidade, de entusiasmo enérgico. Ele odeia, teme e difama qualquer novidade. A grande multidão de mariposas se alia ao filisteu cultural, e elas podem ser caracterizadas com uma única palavra: 'insignificantes'. São moscas efêmeras, que voam de pântano em pântano, levadas por qualquer vento.
Parece-me que fui claro. Mas sei que o que é borra sempre será borra e sempre permanecerá no fundo. Mas quando espero não ter apelado totalmente em vão à elasticidade de algumas cabeças ainda não estragadas, creio que isso seja um otimismo aceitável. Se a única coisa que resta é a esperança, posso consolar-me sabendo que cumpri o meu dever:

'Quem conhece a verdade e não a fala,
este é verdadeiramente um sujeito miserável' *

* passagem do poema de August Binzer (1792-1868)

Jung - As palestras da Zofingia (1896-1899) § 140/141.

"Por toda a parte se levanta o problema de uma cosmovisão, o problema do sentido da vida e do mundo. Em nossa época, num...
04/07/2025

"Por toda a parte se levanta o problema de uma cosmovisão, o problema do sentido da vida e do mundo. Em nossa época, numerosas têm sido as tentativas no sentido de anular o curso do tempo e de cultivar uma cosmovisão de estilo antigo, ou seja, a teosofia ou, para empregarmos um termo mais palatável, a antroposofia. Nós temos necessidade de uma cosmovisão; em todo caso têm-na as gerações mais novas. Mas se não queremos retrogradar, qualquer nova cosmovisão deve renunciar à superstição de sua validade objetiva, e admitir que é apenas uma imagem que pintamos para deleite de nossa mente, e não um nome mágico com o qual tornamos presentes as coisas objetivas. A nossa cosmovisão não é para o mundo, mas para nós próprios. Se não formamos uma imagem global do mundo, também não podemos nos ver a nós próprios, que somos cópias fiéis deste mundo. Somente quando nos contemplamos no espelho da imagem que temos do mundo é que nos vemos de corpo inteiro. Só aparecemos na imagem que criamos. Só aparecemos em plena luz e nos vemos inteiros e complexos em nosso ato criativo. Nunca imprimiremos uma face no mundo que não seja a nossa própria; e devemos fazê-lo justamente para nos encontrarmos a nós próprios, porque o homem, criador de seus próprios instrumentos, é superior à ciência e à arte em si mesmas. Nunca estamos mais perto do segredo sublime de nossa origem do que quando nos conhecemos a nós próprios, que sempre pensamos já conhecer. Mas conhecemos melhor as profundezas do espaço do que as profundezas do nosso si-mesmo onde podemos escutar quase diretamente o palpitar da criação, embora sem entendê-la."

Jung - A Natureza da Psique § 737.

"Náusea desolada pesa sobre mim. Inferno é uma boa palavra para este estado. Brinco negligente e cruelmente comigo mesmo...
03/07/2025

"Náusea desolada pesa sobre mim. Inferno é uma boa palavra para este estado.
Brinco negligente e cruelmente comigo mesmo - e se este for o caminho da vida? Basta percorrê-lo.
É dia ou noite - estou dormindo ou acordado? Comi ou não comi? Estou vivo ou já morri?
Escuridão cega me cerca."

Jung - Os Livros Negros pág. 216 volume 4

"(...) As pessoas que cresceram na Igreja não foram treinadas para abrir os olhos e ver; só lhes era permitido ver por p...
28/06/2025

"(...) As pessoas que cresceram na Igreja não foram treinadas para abrir os olhos e ver; só lhes era permitido ver por projeção. Deveria ter-lhes sido ensinado que 'elas' estão pregadas na cruz, deveria ter-lhes sido mostrado 'onde' elas estão pregadas na cruz. Nenhum pároco jamais fez isso - claro que não. Ele teria quebrado os muros da Igreja; mas, se estamos fora da Igreja, temos uma chance de ver até que ponto estamos pregados na cruz."

Jung - O Zaratustra de Nietzsche pág. 255 vol. II.

"Como médico que sou me encontro numa situação penosa, pois infelizmente não é possível fazer alguma coisa com a palavri...
28/06/2025

"Como médico que sou me encontro numa situação penosa, pois infelizmente não é possível fazer alguma coisa com a palavrinha "deveria". Não podemos exigir de nossos pacientes uma fé que eles próprios rejeitam porque não entendem, ou porque ela nada significa para eles, mesmo que a possuíssem. Temos sempre de contar com as possibilidades de cura encerradas na natureza do doente, pouco importando que as concepções daí decorrentes estejam ou não de acordo com qualquer uma das confissões ou filosofias conhecidas. O material fornecido pelos fatos parece conter algo de primitivo, tanto ocidental como oriental. Quase não se encontra um mitologema que não apareça, às vezes, matizado de uma heresia que não traga, de mistura, alguma coisa de sua singularidade. É assim que deve ser constituída a camada coletiva das profundezas da alma humana. O intelectualista e o racionalista contentes com a própria crença talvez se indignem contra isso e me acusem de ecletismo ímpio, como se eu tivesse inventado os fatos da natureza e da história humanas e preparado com eles uma beberagem teosófica intragável. Ora, quem tem uma crença ou prefere falar uma linguagem filosófica não precisa preocupar-se com os fatos. Mas um médico não pode deixar de encarar a realidade repugnante da natureza humana.
(...) sou obrigado a pedir a meus críticos desapiedados que observem, por bondade, o fato de que parto de 'fatos', buscando para eles uma interpretação."

Jung - Escritos diversos págs. 120/121.

"(...)Devo transformar o deserto em jardim? Devo povoar uma terra erma, torná-la habitável porque todas as terras habitá...
25/06/2025

"(...)Devo transformar o deserto em jardim? Devo povoar uma terra erma, torná-la habitável porque todas as terras habitáveis estão inundadas de pessoas e ensurdecidas pelo barulho da vida? Devo abrir o jardim mágico arejado do deserto para todos aqueles que desejam fugir da azáfama densa da vida exterior? Não sei o que fazer. Quem me leva para o deserto, e o que faço ali?
Jogo esconde-esconde comigo mesmo? Não quero enxergá-lo? Que enganação não posso esperar do meu pensamento? Verdadeira é apenas a vida. E apenas a vida me leva para o deserto, certamente não meu pensamento, que deseja retornar para pensamentos, coisas e pessoas, pois o deserto o assombra.
Eu te pergunto, minh'alma, minha vida, o que estou fazendo aqui? Ouço a palavra cruel "espera". Esse é o mais cruel dos castigos infernais do diabo, ele deixa as pessoas esperarem. O tormento faz parte do deserto - no fundo, eu sei disso e queria não saber. No deserto - esperar - e pelo quê?
Um nada sem eco em minha volta, mesmo assim, a sensação de coisas que se empilham por trás do longínquo horizonte, por vezes evocando uma Fata Morgana. A realidade, porém, é: esperar sedento.
Penso em Cristo no deserto. Aqueles antigos iam externamente para o deserto. Iam também para o deserto de seu próprio Si-mesmo? Ou será que seu Si-mesmo não era tão ermo e deserto quanto o meu? Lá, eles lutavam com o diabo. Eu luto com a espera. Parece-me não ser pouco, pois é verdadeiramente um inferno quente.
Estou cansado, libera-me!"

Jung - Os Livros Negros pág. 165 Vol. II

"(...) só aprendemos a caminhar em linha reta quando podemos caminhar sem um corrimão: só então aprendemos a verdadeira ...
21/06/2025

"(...) só aprendemos a caminhar em linha reta quando podemos caminhar sem um corrimão: só então aprendemos a verdadeira obediência e responsabilidade. Enquanto caminhamos entre dois muros altos, dos quais simplesmente não podemos nos desviar, não há liberdade, nem responsabilidade, nem qualquer outra virtude particular; podemos estar completamente bêbados e, ainda assim, caminharmos em linha reta. Simplesmente não podemos ziguezaguear quando estamos emparedados. Pois bem, essa condição de um caminho seguro com muros seguros pode prevalecer durante muitos séculos em uma civilização estabilizada, mas chegará um momento em que esses mesmos muros cairão, e, então, subitamente, precisaremos depender de nós mesmos. Tudo se torna questionável, e precisamos de uma orientação interior, porque os valores externos não a darão para nós. Então a estabilidade do mundo se baseia, unicamente, em nossa própria confiabilidade, a segurança em nós mesmos."

Jung - O Zaratustra de Nietzsche págs. 280/281 - Volume I.

(...) A coisa é assim. As duas metades parecem iguais mas, de fato, não são. Nem deviam ser, porquanto uma deve ser semp...
12/06/2025

(...) A coisa é assim. As duas metades parecem iguais mas, de fato, não são. Nem deviam ser, porquanto uma deve ser sempre capaz de incluir a outra ou, se prefere, estar sempre do lado de fora da outra.
Idealmente, o homem deve conter a mulher e permanecer fora dela."

Jung - Entrevistas e Encontros pág. 354.

Foto: Jung e Emma

"Posso talvez desejar ou até querer esse amargo dever? Eu não sei, pois tudo é tão sombrio e sumamente misterioso. O mis...
10/06/2025

"Posso talvez desejar ou até querer esse amargo dever? Eu não sei, pois tudo é tão sombrio e sumamente misterioso. O mistério deve ser protegido como uma virgem - mas o que estou dizendo? Ele está mais protegido do que um ser humano jamais poderia protegê-lo, pois nenhuma mão humana pode tocá-lo, a não ser que isso lhe seja dado. Ninguém pode furtá-lo, ninguém pode roubá-lo com violência.
Apenas para aquele que, pobre e ignorante, persevera à porta, para ele talvez ela se abra."

Jung - Os Livros Negros pág. 191 vol. 2.

"O modo mais barato de consertar sentimentos de inferioridade: quando vivemos em meio a uma multidão inferior, facilment...
09/06/2025

"O modo mais barato de consertar sentimentos de inferioridade: quando vivemos em meio a uma multidão inferior, facilmente nos sentimos ótimos. Vejam, naturalmente, começamos pela pregação. Se temos uma boa ideia, queremos pregá-la. Então descobrimos que não há ouvidos para recebê-la, e, por parecer que 'alguém' teria de tê-la, sentimos que devemos ser essa pessoa e aplicamos o mesmo princípio a nós mesmos: começamos a pregar para nós mesmos. E isso é uma coisa muito útil, que aconselho todo pregador a fazer. Vá e pregue Cristo a você mesmo; é por aí que você deveria começar - você é o primeiro. Pois o homem que quer pregar é aquele que quer fugir de seu próprio problema convertendo outras pessoas. Vocês talvez conheçam a história do negro que disse ter tido um sonho maravilhoso, que se compunha de três letras: g.p.c. E ele pensou que isso queria dizer: "Go preach Christ" [Vá pregar Cristo]. Ele queria ser um missionário com uma casaca e uma gravata branca. Mas o outro negro disse que isso queria dizer: "Go pick cotton" [Vá catar algodão]."

Jung - O Zaratustra de Nietzsche pág. 422 - versão e-book.

Há 64 anos, morria Carl Gustav JungÀ medida que Jung se aproximava do fim da sua vida na terra, as imagens de um "casame...
06/06/2025

Há 64 anos, morria Carl Gustav Jung

À medida que Jung se aproximava do fim da sua vida na terra, as imagens de um "casamento sagrado", que ele um dia, próximo da morte, vira, voltaram. Quando Miguel Serrano o visitou, em 05 de maio de 1959, eles tocaram na questão da 'coniunctio'. Jung, relata Serrano, parecia estar perdido num sonho, e disse:

"Era uma vez, em algum lugar, uma Pedra, um Cristal, uma Rainha, um Rei, um Palácio, um Amante e sua Amada; e isso foi há muito tempo, numa ilha em algum lugar do oceano, há cinco mil anos [...]. Eis o Amor, a Flor Mística da Alma. Eis o Centro, o Self [...]. Ninguém compreende o que quero dizer [...] só um poeta poderia começar a entender [...]".

A morte é a última grande união dos opostos do mundo interior, o sagrado casamento da ressurreição, que os chineses antigos denominavam "a união negra nas fontes amarelas". Segundo eles, o homem, na morte, divide-se em suas duas partes psíquicas: uma, negra, pertencente ao princípio do yin, a parte feminina, "p'o", que mergulha na terra; e outra, brilhante, "hun" pertencente ao princípio do yang, que sobe aos céus. As duas continuam a sua jornada, a parte feminina para a divindade feminina do oeste; a outra, para o leste, dirigindo-se à "cidade negra" ou à "fonte amarela". Como "Senhora do Oeste" e "Senhor do Leste", eles celebram a "união negra" e, dessa união, o morto sai como um novo ser, "imponderável e invisível", capaz de "elevar-se como o sol e navegar com as nuvens".

Marie-Louise von Franz - C.G. Jung - Seu Mito em Nossa Época - págs. 227/228.

"(...) A montanha vai ao profeta, nunca o profeta vai à montanha. Se algum profeta é visto indo à montanha, vocês podem ...
27/05/2025

"(...) A montanha vai ao profeta, nunca o profeta vai à montanha. Se algum profeta é visto indo à montanha, vocês podem saber que ele cometeu um equívoco. Teria sido muito melhor ele ficar em casa e deixar a montanha para lá.
(...) Se uma pessoa quer 'missionarizar' o mundo e dizer aos outros o que é bom para eles, isso significa que ela está com fome; ela quer encher a barriga com os cadáveres dos outros. Suas próprias ideias são famintas, sua própria alma; e os outros estão alimentando os pensamentos e os apetites dela, porque ela é incapaz de alimentar a si mesma. Se você descobre o que chama de uma verdade, deveria testá-la, tentar comê-la. Se ela te alimenta, é boa, mas, se você não pode viver dela e só presume que ela deve alimentar outras pessoas, então é má. O teste real é que a sua verdade deveria ser boa para você mesmo. Nenhum cachorro virá farejá-la se ela não alimenta você. Se você não está satisfeito com ela, se não pode usufruir dela por vinte, cinquenta anos, ou por toda uma vida, então não é boa. Se você está com fome, se você pensa que os seus companheiros devem ser redimidos, e que eles devem ser gratos a você acima de tudo, então você está cometendo um equívoco; pode ficar certo de que a ideia não é boa. Por isso, não banque o missionário. Não tente comer os bens dos outros. Deixe os outros pertencerem a si mesmos e cuide de seu próprio aperfeiçoamento: deixe que eles comam a si mesmos. Se eles estão realmente satisfeitos, ninguém deveria incomodá-los. Se não estão satisfeitos com o que possuem, provavelmente buscarão algo melhor; e se você é quem tem a coisa melhor, eles certamente virão e a obterão de você."

Jung - O Zaratustra de Nietzsche págs. 357/358 versão e-book.

Endereço

Lauro De Freitas, BA

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