
09/07/2025
"Sempre que Deus consegue criar um Fausto, o diabo calculista vai e solta cem mil filisteus culturais do inferno para que eles, com sua infinita preguiça grudenta, se pendurem no paletó e segurem o Fausto, que está 'determinado a emergir desse mar do absurdo'. Preguiça, covardia, teimosia e falta completa de qualquer 'necessidade metafísica' caracterizam o filisteu cultural. Aos domingos, suas multidões ocupam as igrejas e proclamam palavras, ações e pensamentos edificantes. À tarde, ele é amoroso, educado e bom. À noite, ele finge entender de música ou vai passear na natureza e busca a paz interior no livro aberto da criação. Na maior parte do tempo, seu humor é edificante, e ele é dominado por uma forte consciência de responsabilidade. Além disso não existe nada, e lá começa o grande vazio. Nenhum sinal de vitalidade, de entusiasmo enérgico. Ele odeia, teme e difama qualquer novidade. A grande multidão de mariposas se alia ao filisteu cultural, e elas podem ser caracterizadas com uma única palavra: 'insignificantes'. São moscas efêmeras, que voam de pântano em pântano, levadas por qualquer vento.
Parece-me que fui claro. Mas sei que o que é borra sempre será borra e sempre permanecerá no fundo. Mas quando espero não ter apelado totalmente em vão à elasticidade de algumas cabeças ainda não estragadas, creio que isso seja um otimismo aceitável. Se a única coisa que resta é a esperança, posso consolar-me sabendo que cumpri o meu dever:
'Quem conhece a verdade e não a fala,
este é verdadeiramente um sujeito miserável' *
* passagem do poema de August Binzer (1792-1868)
Jung - As palestras da Zofingia (1896-1899) § 140/141.