08/01/2023
“Transtorno bipolar tipo 02”
Esse foi o Cid. que ela me deu a cinco anos atrás, depois de longos anos tratando de uma depressão que não me “largava” nunca.
Enquanto eu estava no consultório dela olhando pela janela pensando “nossa que baque”, ela prescrevia minhas medicações. Me recordo que sai da consulta e liguei para a minha mãe, eu chorava como se alguém tivesse diagnosticado um câncer em mim! Talvez aquilo tivesse me assombrado tanto, pelo fato de não conhecer totalmente e exatamente o que eu tinha e como eu teria que passar por aquilo.
Os anos passaram, as medicações me estabilizaram e a terapia fora fundamental para minha aprendizagem sobre o meu transtorno.
Quando o Be nasceu, tomei uma decisão que afetaria todo o tratamento, deixei de tomar as medicações e tenho total consciência de que esta é a pior decisão, mas o medo de dormir e não conseguir acordar na madrugada para suprir tudo que o Be demanda, foi muito maior! Então, me coloquei em risco consciente de toda perda que vou ter…
Mas a maternidade contrapôs os meus sintomas por um momento é como se a “cura”, tivesse me alcançado (mesmo sabendo que para os transtornos mentais não existirá cura).
Então, quando sinto um pouco mais do aumento da minha energia (hipomania), sei que a irritabilidade pode me atrapalhar, mas incrivelmente a paciência me invade e o choro do Benício na madrugada já não me irrita mais (sim no primeiro dia de privação do sono, fiquei irritada, não é algo que posso controlar, é apenas um sintomas do meu transtorno, e eu sempre repetia isso para mim, pois eu me culpava, mas não posso simplesmente deixar de sentir). Logo após da hipo, vem a diminuição de energia e então os sintomas depressivos tomam conta totalmente de mim, mas magicamente me lembro que para sair desse ciclo, a ativação comportamental é importante, então eu simplesmente passo a vencer toda a dor e desanimo que sinto naquele momento, ou melhor, eu entendo que apesar disso tudo, “a vida tem que continuar”.
Eu sei que em algum momento (assim que eu estiver adaptada a maternidade e confiante) voltarei com todas as medicações, mas enquanto isso, a sensação que tenho, é que a maternidade chegou e confrontou todo o meu diagnóstico. Claro que tenho consciência que eu não melhorei simplesmente, como se nunca mais fosse sentir o que muitas vezes sinto, mas o que eu quero dizer, é que a importância de aprender a lidar com o que tenho esta sendo fundamental para eu conseguir ser mãe, e em contrapartida ser mãe esta sendo fundamental para eu conseguir “ser/ter” bipolar.
Psicóloga, Jennifer I. Duarte 🧠