10/05/2025
Querida mãe,
Hoje eu quero te contar uma história.
Era uma apresentação de ballet. Minha filha tinha uns oito anos. O espetáculo era “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. As crianças dançavam, o público sorria, e sob uma das cadeiras do auditório havia um bilhete dourado — exatamente como no filme.
Adivinha debaixo de qual cadeira ele estava?
Da minha.
A vazia.
Naquele dia, no meio da apresentação, meu telefone tocou. Um paciente meu, operado no dia anterior, estava com um sangramento importante. Era urgente. Era grave. Era o tipo de situação que a gente escolhe por não ter escolha.
Fui.
Resolvi.
Tudo deu certo com o paciente. Voltei o mais rápido que pude. Mas, ao final do espetáculo, encontrei minha filha aos prantos. Ela havia olhado para a plateia e visto a cadeira vazia. A do bilhete dourado. A da ausência da mãe.
Passaram-se dez anos. E, ainda hoje, quando me lembro, eu choro.
Mas com o tempo e a maturidade, que só a dor bem vivida nos dá, entendo algo que gostaria de dividir com você: naquele dia, eu não falhei como mãe. Eu estive ausente, sim. Mas por amor. O filho de outra mãe precisava de mim. E eu fui.
É claro que a minha filha merecia minha presença. E que a dor dela era real. Mas desde então, estive em tantas outras apresentações: Coroações de Nossa Senhora, espetáculos de circo, ballet, jazz, apresentações de dia das mães, festas juninas...E estive inteira.
A questão é que a mente — essa danada — tem o hábito cruel de guardar o que doeu e esquecer o que brilhou.
Por isso, escrevo essa carta, especialmente para você, que carrega culpas antigas, memórias que ardem, ausências que pesam. Para você que, às vezes, sente que não foi o suficiente.
Foi, sim. Você é. E continua sendo.
Não deixe que uma ausência anule mil presenças. Não permita que um tropeço apague uma estrada inteira de cuidado, esforço, entrega e amor.
No fim das contas, ser mãe é isso: errar tentando acertar, falhar tentando cuidar, e amar — sempre — mesmo quando se está longe.
Feliz Dia das Mães.
Com amor 😍
Angel