13/05/2022
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A Alquimia nas relações
O estudo da alquimia nos chega como uma metáfora para o desenvolvimento do humano e de suas relações.
Verif**ada a luz do elemento simbólico é, em particular, do interesse analítico na transformação da personalidade como também na transformação social e coletiva.
Os alquimistas dos séculos XV e XVI tinham como objetivo transformar as matérias básicas em ouro ou em um elixir universal como também em libertar a alma de sua prisão corpórea numa transformação transcendental.
Em Psicologia Analítica, os instintos contam como matéria básica a serem transformados em ouro, o que signif**a, após todo o processo alquímico, que os instintos passam a ser respeitos e acolhidos pelo ego sem que esse se deixe tomar por eles, numa perfeita gestão dos afetos e dos sentimentos.
Libertar a alma, que signif**a psique, de sua prisão corpórea, não é vista como uma tarefa religiosa, mas antes como a tarefa de educar a psique para que essa possa pensar a si mesma de modo ético e temperado de acordo com todas as suas contradições, até abandonar a dicotomia ao perceber a si e ao mundo como uma totalidade que abarca todas as diferenças.
Seria, em suma, a restauração do ser humano, uma nova evolução em seu estado como humano.
Desde Demócrito, a meta da Alquimia tem como lema o princípio de origem pagã: “A natureza alegra-se com a natureza, a natureza triunfa sobre a natureza, e a natureza governa a natureza”.
A natureza é a própria transformação que não tem a tendencia ao isolamento, ao contrário, tende para a união, para a festa nupcial, seguida de morte e de renascimento em seu desdobramento finito e infinito.
É no relacionamento amoroso que encontramos a Grande Obra alquímica ao promover no casal o encontro que modif**a ambas as personalidades envolvidas e a partir daí, o crescimento interno que por si só procura estabelecer vínculos duradouros e transformativos.
Nessa alquimia, a consciência se desprende do seu objeto afetivo se dissolvendo em contemplação donde tal objeto afetivo não é mais a razão ou o objetivo de seu poder, mas a beleza etérea do amor.
A energia psíquica se livra do pensamento que busca encadeamentos externos e internos para se concentrar no momento presente sem anular a existência da finitude.
Quando o relacionamento se fixa num padrão tóxico, pela lei alquímica, é o momento do reconhecimento do sombrio num esforço de compreender o mundo arquetípico da psique, compreender o perigo da fascinação que ameaça o lado racional, proceder à separação dos metais vis dos metais nobres, e com os vis metais dar continuidade à Grande Obra, através da putrefação, depois da mortif**ação e finalmente da conjunção.
Esse é o relacionamento que mais define a iniciação do neófito em termos espirituais e o caminho da individuação nos termos da psicologia arquetípica, pois que é o fio da navalha, desconcertante, perigoso e único caminho que se apresenta; andar no fio da navalha sem incorrer em quedas fatais para a psique.
Entendendo que depressão, fixação no objeto amoroso, negação de finitude, euforia sexual e social, determinam as quedas fatais pós termino de relacionamento e durante ele qualquer dependência ao estado alterado de consciência produzido por racionalização, por negação, por substancias licitas ou ilícitas, são fatais para a queda livre.
Daí, ser o fio da navalha o único caminho apresentado ao neófito ou neófita, compreendendo que o fio da navalha requer o confronto com o seu próprio lado sombrio.
Com certeza, a maioria que me ouve se pergunta para onde estamos indo em termos de civilização já que o que se apresenta no momento são perspectivas sombrias. Os estudos da Psicologia Arquetípica também se pergunta e investiga.
Como já nos alertou o filósofo alemão Nietzsche, essa é uma era de transvaloração dos valores, e parece que tudo está determinado a putrefação moral e ética. A decadência humana parece ainda não haver chegado ao fundo do poço. É porque os processos alquímicos de toda uma civilização tem o seu tempo que para o indivíduo transcorre de modo lento e parece jamais chegar.
Se para uma única pessoa essa transformação leva alguns anos de trabalho e vigília de si mesmo, imagine quanto tempo será necessário para toda uma civilização? Não podemos esperar que aconteça em 50 e talvez nem mesmo em 100 anos.
O panorama é escuro feito breu, porem enquanto ocorre a decadência surge também a ascendência pois que os opostos estão sempre presentes. De modo que nesse quadro pintado de escuridão está brotando as sementes que posteriormente trarão flores alienígenas de tão diferentes do que hoje se nos apresenta como humanos.
A transformação coletiva de individuação irá acontecer tal e qual como tantas outras já ocorreram, por exemplo, com a descoberta do fogo tudo mudou e posteriormente e mais próximo de nossa memória, quando a função racional veio se juntar à psique instintual, a mudança foi tão intensa que até hoje estamos nos debatendo para fazer uma composição entre ambas.
Que as belas flores alienígenas continuem a germinar e a florescer independentemente dessa escuridão passageira.
Lunardon Vaz
07.05.2021