Sylvio Do Amaral Schreiner

Sylvio Do Amaral Schreiner Sylvio do Amaral Shreiner é psicanalista em Londrina. Atende em consultório e de modo online. Entr

Rubem Alves, com sua sensibilidade poética, nos lembra que a vida pode ser desperdiçada quando reduzida à produtividade....
06/09/2025

Rubem Alves, com sua sensibilidade poética, nos lembra que a vida pode ser desperdiçada quando reduzida à produtividade. A sua frase "Se eu pudesse recomeçar, teria mais pressa de viver do que de ser produtivo. Mas trabalhei tanto que me esqueci de estar vivo. Uma pena, porque viver é a única urgência" toca numa ferida que encontramos em todos nós que é a transformação do sujeito em uma engrenagem de performance, onde o “ser alguém na vida” suplanta o simples e profundo gesto de “ser”.

Na lógica do mundo, desde cedo somos convocados a provar valor através de conquistas, títulos e resultados. A criança aprende que só será reconhecida se corresponder ao olhar de aprovação do outro, seja da família, da escola, seja, mais tarde, do ambiente profissional. Busca-se o status. Assim, o viver espontâneo, marcado pela curiosidade, pelo brincar e pela abertura ao inesperado, vai sendo substituído por uma vida dirigida à meta, onde o tempo não é vivido, mas consumido. Freud já apontava para esse destino de sacrifício quando descreveu a renúncia pulsional. O que vemos hoje é que a renúncia ao desejo não é apenas preço da vida em sociedade, é muitas vezes a própria perda do contato com o que nos torna vivos.

A clínica mostra que, em nome do ideal de produtividade, muitas pessoas se afastam de si mesmas. A mente se enrijece em deveres, listas e comparações, enquanto os afetos e o corpo denunciam o vazio. Ansiedade, insônia, fadiga, sintomas que dizem mais da falta de vida do que do excesso de trabalho. Como se a existência fosse reduzida a um currículo. Porém, nenhum currículo substitui a experiência íntima de estar vivo, de amar, de criar, de sofrer e também de se encantar. Viver verdadeiramente é o que dá sentido à existência; sem isso, sobra apenas sobrevivência.

Muitos pacientes chegam à análise carregando um pedido que, à primeira vista, parece simples: querem uma vida menos ator...
31/08/2025

Muitos pacientes chegam à análise carregando um pedido que, à primeira vista, parece simples: querem uma vida menos atormentada, menos sofrimento. Desejam, em suas próprias palavras, “paz de espírito”. No entanto, conforme o processo analítico se desenrola, o paradoxo se revela: quando finalmente se aproximam de um estado diferente do tormento de antes, algo inesperado acontece. Isso, longe de ser vivido como alívio, passa a ser experimentado como incômodo. O sujeito então, sem perceber, movimenta-se para destruir essa experiência. Cria um conflito desnecessário e a mudança tão desejada anteriormente torna-se insuportável de suportar.

É como se uma parte da mente não tolerasse mudanças, sentindo-se compelida a produzir ruídos, dramas e agitações. Assim, o sofrimento volta a ocupar seu lugar de protagonista. O sujeito, mesmo sem querer conscientemente, recria as mesmas situações dolorosas, como se precisasse retornar sempre ao terreno já conhecido. Esse “retorno ao sofrimento” oferece uma paradoxal sensação de familiaridade e segurança. A dor, por mais penosa que seja, é uma velha conhecida. A mudança de estado de mente, em contrapartida, é vivida como um território estrangeiro, que desperta ansiedade.

Muitos indivíduos acabam construindo suas identidades sobre o sofrimento. Ele passa a ser não apenas uma experiência dolorosa, mas também aquilo que organiza e dá contorno ao Eu. Sofrer se torna uma maneira de se reconhecer e de se justif**ar diante do mundo. Por isso, ao entrar em contato com momentos de bem-estar, muitas pessoas sentem como se perdessem algo essencial de si mesmas.

Em última instância, a análise convida a descobrir que a vida não precisa ser uma sequência de problemas para ser signif**ativa. É possível encontrar sentido também na leveza, no silêncio, na alegria. É necessário coragem de suportar o desconhecido que é viver bem, coragem de abandonar a identidade construída sobre a dor, coragem de permitir que o prazer não seja uma visita incômoda, mas um hóspede legítimo na casa da mente.

Na clínica, é frequente encontrarmos sujeitos tomados por uma inquietação persistente, quase uma aflição crônica, diante...
27/08/2025

Na clínica, é frequente encontrarmos sujeitos tomados por uma inquietação persistente, quase uma aflição crônica, diante da vida que têm. Uma vida que não corresponde às imagens idealizadas construídas ao longo dos anos, muitas vezes desde a infância. Essas imagens — de um amor pleno, de um trabalho perfeito, de um corpo ideal, de um eu sempre competente — tornam-se padrões rígidos contra os quais a realidade é constantemente medida, e quase sempre julgada insuficiente.

Ocorre, então, uma espécie de aprisionamento narcísico: ao invés de lidar com o que está presente, o sujeito se aferra àquilo que deveria estar. Há pouco espaço para o imprevisto, para a imperfeição, para o outro como ele é — e não como gostaríamos que fosse. Esse apego ao ideal é, em muitos casos, o verdadeiro motor da ansiedade. Pois quanto maior a rigidez das imagens internas, maior será a tensão quando a realidade insiste em não se dobrar a elas.

A ansiedade, assim compreendida, não é apenas medo do futuro, mas também luto mal elaborado pelo presente que não coincide com o esperado. Trata-se de um sofrimento que nasce da dificuldade em tolerar a frustração, em aceitar o curso da vida como processo e não como produto acabado. O real, com sua natureza incerta e sua oferta de encontros e desencontros, exige do sujeito uma plasticidade psíquica que a ansiedade, em sua forma paralisante, frequentemente obstrui.

Essa estátua, que está no meu consultório feita pelo meu primo  , e que desperta interesses em tantas pessoas, me fez pe...
29/07/2025

Essa estátua, que está no meu consultório feita pelo meu primo , e que desperta interesses em tantas pessoas, me fez pensar em diversos aspectos que resultaram o seguinte escrito:

Quando os seios começam a despontar no corpo de uma menina, não é apenas o físico que muda, é o mundo interno que começa a se reorganizar. Vergonha, vaidade, desejo de esconder e vontade de mostrar convivem nesse momento de passagem. O corpo avisa: ela está se tornando mulher. E com isso vem uma enxurrada de emoções, sensações e olhares externos que marcam o início da adolescência.

O seio, que será fonte de prazer erótico na vida adulta, será também o canal de nutrição e amor quando chegar a hora da maternidade. Nele, a sexualidade e o afeto se entrelaçam como tudo que envolve o corpo humano e sua vida psíquica.

Amamentar é muito mais do que alimentar. É dar o corpo ao outro. É viver uma experiência de intimidade profunda, onde prazer, ternura e vínculo se encontram. Para que essa vivência aconteça de forma saudável, há um trabalho psíquico intenso: transformar o erotismo em amor, a excitação em cuidado.

Freud já nos dizia: a sexualidade começa cedo, desde o prazer de mamar. A boca é a primeira zona erógena. Por isso, para a psicanálise, sexualidade é muito mais do que genitalidade, mas é a energia que nos move para os outros, para o mundo, para o viver.

O bebê precisa ser desejado, olhado com amor. Precisa ser o centro do mundo de seus pais. Só assim ele desenvolverá sua capacidade de amar. Foi a partir disso que Winnicott construiu sua teoria do desenvolvimento emocional: o afeto materno e o suporte do pai como base para uma psique saudável.

E o pai? Ele também é convocado. Precisa sustentar essa dupla mãe-bebê, sem se sentir excluído. Pode até sentir ciúmes, perceber que a parceira está momentaneamente mais conectada ao bebê do que ao casal. Mas é necessário que esse triângulo se construa. Porque é na separação, no desmame, no fim da fusão, que o bebê começa a ser alguém no mundo.

Amamentar é também permitir que o outro cresça e, aos poucos, se separe. E isso é o início do amor mais profundo: aquele que cuida, mas também deixa partir.

Para eles, o que é presente perde valor assim que é obtido. A insatisfação não decorre daquilo que lhes falta, mas da in...
28/07/2025

Para eles, o que é presente perde valor assim que é obtido. A insatisfação não decorre daquilo que lhes falta, mas da incapacidade de se ligar afetivamente ao que possuem. Não há gratidão, pois não há apropriação verdadeira. Vivem como se fossem devedores do mundo, incapazes de amar o que é possível porque estão apaixonados pelo impossível.

Freud, ao fundar a psicanálise, desferiu um dos golpes mais profundos na ilusão de que tínhamos sobre nós mesmos. A part...
21/06/2025

Freud, ao fundar a psicanálise, desferiu um dos golpes mais profundos na ilusão de que tínhamos sobre nós mesmos. A partir da escuta dos sintomas, dos sonhos e dos atos falhos, revelou que há em nós uma instância: o inconsciente, que opera à revelia do Eu, determinando pensamentos, escolhas, desejos e repetições. Com isso, mostrou que boa parte de nossa vida não é dirigida pela razão, mas por movimentos psíquicos subterrâneos, por vezes insuspeitados, até mesmo pelo sujeito que os vive. A psicanálise, desde então, passou a se ocupar em acompanhar esse território invisível e irredutível à lógica da consciência humana.

Curiosamente, hoje nos deparamos com uma nova forma de “funcionamento invisível” que, à semelhança do inconsciente, também começa a decidir por nós: a inteligência artificial.

No entanto, diferentemente do inconsciente humano, formado por memórias, afetos, recalques e desejos, a inteligência artificial não pensa, não sofre, não sonha, não esquece, não duvida. É um sofisticado sistema de correlação de dados, capaz de simular conversas e identif**ar padrões, mas sem interioridade, sem subjetividade e, portanto, sem verdade no sentido psicanalítico do termo. Não há desejo numa máquina, tampouco ambivalência, conflito ou criação espontânea

O paradoxo, contudo, é que mesmo com essa mente tão rica e potente, seguimos pouco conscientes da profundidade de nosso próprio psiquismo. Avançamos em tecnologias externas, mas ainda engatinhamos no uso de nossa tecnologia interna.

A dor que muitas vezes atribuímos ao mundo não vem propriamente dele, mas das expectativas idealizadas que projetamos so...
19/06/2025

A dor que muitas vezes atribuímos ao mundo não vem propriamente dele, mas das expectativas idealizadas que projetamos sobre ele. Como a psicanálise nos ensina, é comum que o sujeito, movido por desejos inconscientes, exija da realidade (mundo) uma completude que ela não pode oferecer.

O mundo externo, com sua natureza e imprevisibilidade, não tem a função de nos fazer felizes, mas sim de ser enfrentado, simbolizado, elaborado. Quando esperamos que a vida nos compense, como se ela nos devesse algo, estamos na verdade resistindo à necessária tarefa de maturação psíquica: a de aceitar as frustrações e construir, a partir delas, uma posição interna mais realista, capaz de desejar sem exigir e de sofrer sem se destruir.

Aprender a viver não é esperar que o mundo se molde aos nossos anseios, mas desenvolver recursos internos para lidar com a realidade tal como ela é : imperfeita, mas ainda assim viva e transformadora.

Quando ela se vai, a pessoa pode cair num estado de imobilidade interna, onde nada mais parece fazer sentido. A mente tr...
14/06/2025

Quando ela se vai, a pessoa pode cair num estado de imobilidade interna, onde nada mais parece fazer sentido. A mente trava, o tempo parece congelar, e o futuro desaparece do horizonte. Sem esperança, tudo f**a cinza e sem graça, criando uma vida desvitalizada e até cheia de dores.

Ao contrário do que muitos pensam, a esperança verdadeira não é se enganar sobre a realidade. Ela não exige que a gente acredite que tudo vai dar certo, mas que, mesmo com os desafios, vale a pena seguir tentando. Freud, ao falar sobre a capacidade de sonhar, mostrava o quanto imaginar futuros possíveis, dentro da realidade, é salutar para a saúde mental. E para sonhar com o futuro, é preciso ter alguma confiança, ainda que frágil, de que é possível se transformar. Já Bion, outro grande psicanalista, dizia que para pensar, para elaborar o que sentimos, é preciso ter uma espécie de fé interna, uma confiança de que o processo da mente pode dar conta do que está acontecendo. Isso também é esperança: uma confiança silenciosa de que algo pode mudar, mesmo que a gente não saiba como nem quando.

Na análise, muitas vezes o paciente chega sem nenhuma esperança. Ele vem porque está cansado de sofrer, mas não acredita mais em nada. E é aí que o papel do analista se torna fundamental: ser alguém que acredita, ainda que um pouquinho, que há algo ali dentro que pode se reorganizar. Que há sentidos escondidos, possibilidades não vividas, e que, com tempo, cuidado e escuta, a vida pode reencontrar seu curso.

A realidade, ainda que imperfeita, guarda em si riquezas que só podem ser descobertas quando nos autorizamos a viver o q...
26/05/2025

A realidade, ainda que imperfeita, guarda em si riquezas que só podem ser descobertas quando nos autorizamos a viver o que há — e não apenas o que gostaríamos que houvesse.

🪻A IMPORTÂNCIA DE UMA MÃE Na construção da subjetividade de um ser humano, a figura materna ocupa um lugar determinante....
11/05/2025

🪻A IMPORTÂNCIA DE UMA MÃE

Na construção da subjetividade de um ser humano, a figura materna ocupa um lugar determinante. Não se trata apenas da mãe biológica, mas da função materna — essa posição psíquica que acolhe, sustenta e dá continuidade à vida nascente. Antes que o bebê possa perceber-se como alguém, ele precisa ser percebido. Antes de desejar, precisa ser desejado. É nessa lógica que a função materna se estabelece e é ela quem oferece ao bebê não apenas alimento, mas também um espelho afetivo no qual ele começa a se reconhecer e a se ver como pessoa.

A função materna é aquela que se dispõe a ocupar um lugar de cuidado primário, capaz de decifrar gestos inarticulados, de dar sentido ao choro e à inquietação, de oferecer uma presença que não seja perfeita, mas que suporte as angústias do bebê e traduza suas necessidades em experiências emocionalmente organizadoras. Através da presença constante e da capacidade de se adaptar às necessidades do filho, a mãe, ou quem exerce essa função, permite que o bebê viva a ilusão temporária de que o mundo existe apenas para ele, e que tudo o que ele precisa será provido.

Mas a função materna também implica, aos poucos, em frustrações graduais. Essa retirada progressiva, esse não mais atender de forma imediata, permite que o bebê comece a construir um espaço interno, a elaborar a ausência, a simbolizar. É o início da vida psíquica tal como a conhecemos: marcada por faltas, por buscas, por desejos. A mãe, portanto, é a primeira mediadora entre o biológico e o psiquismo.

É por isso que a função materna não é apenas biológica, é uma posição psíquica que exige sensibilidade, disponibilidade e capacidade de estar presente. Aquele que, na infância, teve a oportunidade de experimentar uma função materna suficientemente boa, terá maiores condições de desenvolver uma subjetividade criativa, capaz de elaborar perdas, viver desejos e construir laços. A psicanálise nos ensina, portanto, que a mãe, mais do que uma pessoa, é uma função estruturante: ela funda o terreno onde a vida psíquica começa a germinar.

Freud, ao desenvolver a psicanálise, mostrou-nos que a fala é, por excelência, o instrumento do inconsciente para se man...
09/05/2025

Freud, ao desenvolver a psicanálise, mostrou-nos que a fala é, por excelência, o instrumento do inconsciente para se manifestar e para se transformar. O sofrimento não escutado e não simbolizado tende a se fixar, a endurecer-se em forma de repetição ou sintoma. Por isso, é tão comum ouvirmos pessoas dizerem que “não sabem o que estão sentindo” — não porque não sintam, mas porque não encontraram ainda as palavras para acolher e representar a experiência interna.

No espaço da análise, o que se busca não é apenas falar por falar. É a construção de uma escuta que autorize o sujeito a se dizer com verdade. Muitas vezes, é preciso tempo até que a fala venha, até que a dor ganhe nome, até que a emoção se reconheça em linguagem. Mas quando isso acontece, algo de profundamente vital se inaugura: o sofrimento, ao ser simbolizado, pode ser reintegrado à história do sujeito e, assim, transformado. O que antes era apenas peso ou angústia indizível torna-se conteúdo pensável e, portanto, passível de elaboração.

A psicanálise aposta na fala como via de libertação, não no sentido simplista de “falar para desabafar”, mas como forma de escuta profunda de si, de encontro com o próprio desejo e de construção de novos sentidos. Falar, nesse contexto, é existir de forma mais íntegra, é criar laços com a própria história, é poder, enfim, viver com maior autenticidade.

E a mente, para crescer, precisa digerir a experiência emocional bruta, aquilo que o sujeito não conseguiu transformar e...
01/05/2025

E a mente, para crescer, precisa digerir a experiência emocional bruta, aquilo que o sujeito não conseguiu transformar em pensamento. No início da análise, o analista convida o paciente a olhar para essa lama interior, a se aproximar dela sem julgamento. E isso não é fácil. Tocar na dor que foi recalcada, reviver fantasmas, reconhecer aspectos do self que foram negados ou odiados — tudo isso implica suportar um tempo de feiura e incerteza.

Contudo, paradoxalmente, é nessa fase lamacenta que algo essencial está sendo gestado. Como a terra que se inunda e se desorganiza para acolher a semente, a mente do paciente começa a se tornar fértil. As repetições inconscientes, uma vez vistas e nomeadas, perdem força. Os sintomas, antes misteriosos, ganham sentido. A palavra encontra o afeto e a dor encontra forma. Ainda que o mundo interno continue confuso por um tempo, a análise cria o espaço necessário para que o paciente não precise mais fugir de si mesmo.

Essa travessia exige persistência. Como a espera da primavera exige fé. É comum que o paciente deseje interromper o processo justamente nesse ponto inicial, quando o mal-estar parece ter se intensif**ado. Mas se houver continuidade, se o vínculo transferencial for suficientemente sólido, algo começa a se transformar. Pequenos brotos aparecem: uma decisão diferente, um sonho novo, um choro que alivia, uma memória que antes estava interditada e agora pode ser tocada. Não há espetáculo. Não há mágica. Mas há vida em movimento.

Endereço

Rua Pará, 1531, Sala 401
Londrina, PR
86020-400

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