
06/09/2025
Rubem Alves, com sua sensibilidade poética, nos lembra que a vida pode ser desperdiçada quando reduzida à produtividade. A sua frase "Se eu pudesse recomeçar, teria mais pressa de viver do que de ser produtivo. Mas trabalhei tanto que me esqueci de estar vivo. Uma pena, porque viver é a única urgência" toca numa ferida que encontramos em todos nós que é a transformação do sujeito em uma engrenagem de performance, onde o “ser alguém na vida” suplanta o simples e profundo gesto de “ser”.
Na lógica do mundo, desde cedo somos convocados a provar valor através de conquistas, títulos e resultados. A criança aprende que só será reconhecida se corresponder ao olhar de aprovação do outro, seja da família, da escola, seja, mais tarde, do ambiente profissional. Busca-se o status. Assim, o viver espontâneo, marcado pela curiosidade, pelo brincar e pela abertura ao inesperado, vai sendo substituído por uma vida dirigida à meta, onde o tempo não é vivido, mas consumido. Freud já apontava para esse destino de sacrifício quando descreveu a renúncia pulsional. O que vemos hoje é que a renúncia ao desejo não é apenas preço da vida em sociedade, é muitas vezes a própria perda do contato com o que nos torna vivos.
A clínica mostra que, em nome do ideal de produtividade, muitas pessoas se afastam de si mesmas. A mente se enrijece em deveres, listas e comparações, enquanto os afetos e o corpo denunciam o vazio. Ansiedade, insônia, fadiga, sintomas que dizem mais da falta de vida do que do excesso de trabalho. Como se a existência fosse reduzida a um currículo. Porém, nenhum currículo substitui a experiência íntima de estar vivo, de amar, de criar, de sofrer e também de se encantar. Viver verdadeiramente é o que dá sentido à existência; sem isso, sobra apenas sobrevivência.