22/11/2021
CARTA DE UM FILHO AO PAI ALCOÓLATRA
Perdoe-me pai. É importante que leia o meu desabafo. Sempre falei que quando eu crescesse, queria ser igual ao senhor, mas... Infelizmente EU mudei de idéia.
Não imagina o que sofremos quando anoitece e o senhor não vem para jantar, pois só chega em casa de madrugada assim mesmo embriagado. Olhe pai, não me importo que chute os meus brinquedos, pise-os, atire-os contra as paredes e bata raivosamente em mim sem motivos, quando eu lhe pergunto: porque o senhor não deixa de beber? Pai, não me envergonho de usar roupas velhas, sapatos furados e nem me incomodo com um pouco de alimento que como. Na verdade nada disso teria importância se o senhor não bebesse.
Por favor, não fique parado nos bares perdendo seu tempo, seu dinheiro e, sobretudo sua saúde, bebendo e farreando ao lado daqueles que dizem ser seus amigos, Lembre-se pai, nós precisamos do senhor. EU queria, apenas, tê-lo em casa todas as noites para poder dizer antes de deitar: BENÇA PAI!!! Sabe pai, EU senti muita pena de vê-lo um dia desses deitado na calçada. Os garotos que passavam começaram a atirar-lhe pedras, riam e zombavam do senhor como se fosse um bicho, seus ci****os estavam espalhados pelo chão, seus bolsos revirados e lá estava uma garrafa de cachaça quebrada em seus pés.
Pedi para que eles não fizessem aquilo e, eles me perguntaram: você conhece esse cachaceiro? Poxa, pai... Tive vontade de dizer NÃO! Mas lembrei-me que certa vez o respondi: sim, conheço é meu pai! Eles riram e falaram: se fossemos você, teríamos vergonha de chamar esse bêbado de pai! Baixei a cabeça humilhado, meus olhos se encheram de lágrimas e chorei. Tentei erguê-lo, pedi para que o senhor se levantasse, enxuguei seu rosto suado pelo sol do meio-dia, contudo, meus esforços foram inúteis. O senhor parecia não ouvir, gemia, dizia palavras incompreensíveis e rolava de um lado para o outro da calçada imunda. Os garotos foram embora dizendo: você está lidando com um pau d’água sem vergonha, deixei-o aí, pode ser que ao tentar atravessar a rua, um caminhão passe por cima dele e o mate. Pai foi duro ouvir aquilo, EU senti como se o mundo inteiro desabasse sobre mim. Querido pai, porque o senhor não procura os Alcoólicos Anônimos para deixar de beber? Existem muitos grupos na cidade. Porque não tenta? Talvez seja sua grande oportunidade. Não se envergonhe, lá eles irão recebê-lo bem. Antes de terminar, quero que o senhor saiba de uma coisa. O voto que fiz a amá-lo, respeitá-lo e querer-lhe bem, hei de cumprir sempre, mas... Quando crescer não quero ser mais igual ao senhor.
De seu filho que o ama.