Dr. Marco Túlio Franco- Médico Reumatologista

Dr. Marco Túlio Franco- Médico Reumatologista DR MARCO TÚLIO FRANCO CRM 994
REUMATOLOGIA e DOR RQE 204
ATENDIMENTO ADULTOS E CRIANÇAS. INSTITUTO DE ORTOPEDIA MACAPÁ +55 (96) 3242-2666 Cel 99105-9263

Reumatologia e Envelhecimento: quando a dor merece atenção especialA dor nas costas ou nos ossos em idosos não deve ser ...
31/08/2025

Reumatologia e Envelhecimento: quando a dor merece atenção especial
A dor nas costas ou nos ossos em idosos não deve ser encarada apenas como um “sinal da idade”. Muitas vezes, pode estar relacionada a doenças reumáticas limitantes, fraturas, tumores ósseos, mieloma múltiplo ou até mesmo a infecções como a tuberculose. Por isso, a avaliação médica é indispensável. O reumatologista é o especialista em diagnosticar e investigar essas situações, diferenciando o que faz parte do envelhecimento natural daquilo que exige tratamento imediato.

As doenças reumáticas mais comuns no idoso
Com o passar dos anos, algumas doenças se tornam mais frequentes e impactam profundamente a qualidade de vida. Entre elas, destacam-se:

• Artrite reumatoide no idoso: embora mais conhecida em adultos jovens, pode surgir após os 60 anos. Provoca dor, inchaço e rigidez em várias articulações, como mãos, punhos, joelhos e pés. Muitas vezes é confundida com artrose ou gota, atrasando o diagnóstico. O tratamento precoce é essencial para evitar deformidades, perda de função e dependência.

• Polimialgia reumática: comum em pessoas acima de 60 anos, causa dor intensa e rigidez em ombros, quadris e pescoço, dificultando tarefas simples como se levantar da cama ou pentear o cabelo. Frequentemente vem acompanhada de fadiga e perda de peso. Pode estar associada à arterite temporal, que inflama artérias da cabeça e pode levar à perda de visão. O diagnóstico rápido preserva articulações — e também a visão do paciente.

• Osteoporose: doença silenciosa que enfraquece os ossos, tornando-os suscetíveis a fraturas mesmo em quedas leves. Quadril, coluna e punho são os locais mais afetados. Uma fratura pode signif**ar dor crônica, perda de independência e até risco de vida. A prevenção inclui alimentação rica em cálcio e vitamina D, prática de exercícios físicos e, em alguns casos, medicações específ**as.

• Artrose (ou osteoartrite): é o desgaste progressivo das articulações, especialmente em coluna, quadris e joelhos. Gera dor, rigidez e limitação dos movimentos. Apesar de muito comum, não deve ser normalizada: existem tratamentos que reduzem a dor, melhoram a mobilidade e preservam a autonomia do idoso.

• Fibromialgia no idoso: manifesta-se com dor difusa em várias regiões do corpo, fadiga, distúrbios do sono e alterações de memória e concentração. Em pessoas idosas, pode ser confundida com outras doenças musculoesqueléticas, atrasando o diagnóstico. Além da dor, pode levar à depressão e isolamento social. O tratamento envolve medicamentos, fisioterapia, atividade física adaptada e apoio psicológico.

• Sarcopenia: é a perda progressiva de massa e força muscular, ligada a fatores como sedentarismo, envelhecimento, doenças crônicas e inflamações. Aumenta o risco de quedas, fraturas e perda de independência, sendo considerada hoje uma das principais síndromes geriátricas. O tratamento inclui exercícios resistidos (musculação adaptada), nutrição adequada e, em alguns casos, suplementação.

Dor no idoso: sempre merece investigação
É importante lembrar que dores persistentes também podem estar relacionadas a síndromes paraneoplásicas, em que um câncer provoca manifestações no sistema musculoesquelético. Assim, dor contínua em idosos nunca deve ser banalizada.

O reumatologista atua como um verdadeiro “detetive” do diagnóstico: avalia sintomas, solicita exames e diferencia condições benignas de problemas que podem colocar a saúde em risco.

O papel do médico geriatra
Outro profissional fundamental é o geriatra, que deve acompanhar o idoso de forma anual ou semestral. Ele tem um papel estratégico: diagnostica situações próprias da idade, organiza e concilia as várias medicações prescritas por diferentes especialistas, além de acompanhar a saúde global do paciente e orientar sobre prevenção.

Conclusão
Envelhecer com saúde signif**a cuidar de articulações, músculos e ossos. Dores não devem ser vistas como algo “normal da idade”, mas como sinais de que o corpo pede atenção. Ao menor sintoma persistente ou limitação, procure um reumatologista. E não se esqueça: criar o hábito de consultar-se também com um geriatra é essencial para garantir qualidade de vida, independência e bem-estar na terceira idade.

Doenças raras: o invisível que afeta milhõesUm guia para leitores leigos — Brasil e mundo, com foco nas doenças reumatol...
17/08/2025

Doenças raras: o invisível que afeta milhões

Um guia para leitores leigos — Brasil e mundo, com foco nas doenças reumatológicas raras



Quando ouvimos “doença rara”, é comum imaginar algo que quase não existe. O nome engana. Na soma global, as doenças raras atingem milhões de pessoas e compõem um dos maiores desafios de saúde pública do nosso tempo: são milhares de condições diferentes, a maioria de origem genética, que exigem diagnósticos precisos, cuidado contínuo e políticas públicas robustas.

O que é “raro”, afinal?

Não há uma definição única no mundo. Na Europa, considera-se rara a doença que afeta até 1 pessoa em cada 2.000 habitantes. Nos Estados Unidos, a referência legal é numérica: doenças que, somadas, acometem menos de 200 mil pessoas no país. Em ambos os casos, o espírito da regra é o mesmo: identif**ar condições pouco frequentes na população geral, que tendem a enfrentar barreiras de diagnóstico, acesso a tratamento e pesquisa.

Apesar do “raro” no nome, o conjunto não é pequeno: estimativas científ**as amplamente citadas indicam que, a qualquer momento, entre 3,5% e 5,9% da população mundial vive com uma doença rara — algo próximo de 300 milhões de pessoas.

Por que demoram a ser diagnosticadas?

Três razões se combinam. Primeiro, são muitas doenças (passam de 10 mil descritas) e muitas delas se parecem com problemas comuns nas fases iniciais. Segundo, exigem exames específicos — genéticos, de imagem ou biópsias — que nem sempre estão facilmente disponíveis. Terceiro, é preciso experiência clínica para “ligar os pontos” de sinais e sintomas que, isoladamente, soam vagos (fadiga, dores, manchas, perda de peso).

Essa “odisseia diagnóstica” tem custo humano alto: enquanto o nome da doença não vem, pacientes enfrentam idas e vindas, tratamentos que não funcionam e, por vezes, estigma social.

O Brasil tem uma política para doenças raras

Desde 2014, o país conta com a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras (PNAIPDR), que organiza o cuidado no SUS, define diretrizes e cria incentivos para custeio de serviços especializados. Há também a habilitação de centros de referência — hospitais e serviços que reúnem equipes multiprofissionais aptas a diagnosticar, tratar e acompanhar esses pacientes. O Ministério da Saúde mantém páginas públicas com a legislação e listas de estabelecimentos habilitados por região.

Outro pilar são os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), que padronizam critérios de diagnóstico e tratamento no SUS com base em evidências e custo-efetividade. Eles orientam desde exames até o uso de medicamentos de alto custo, fundamentais em muitas raras.

Um olhar global: do nicho ao compromisso internacional

O tema ganhou força no cenário internacional. Em 16 de dezembro de 2021, a Assembleia Geral da ONU aprovou a primeira resolução sobre pessoas que vivem com doenças raras e suas famílias, reconhecendo o grupo como prioritário nas agendas de saúde e inclusão social dos países. A mensagem é clara: garantir diagnóstico oportuno, reabilitação, acesso a terapias e apoio social não é um luxo — é uma obrigação coletiva.

Doenças raras reumatológicas: quando o alvo é o sistema imune

Nem toda doença rara é genética, e nem toda rara é pediátrica. Na reumatologia — área que cuida de doenças autoimunes e inflamatórias — há várias condições raras que podem surgir em qualquer idade. Entre elas:

• Esclerose sistêmica (esclerodermia): doença do tecido conjuntivo que endurece pele e órgãos internos, pode causar fenômeno de Raynaud, refluxo, comprometimento pulmonar e hipertensão pulmonar. É uma das raras reumatológicas mais prevalentes (estimativas em torno de 22 por 100 mil), representando parcela signif**ativa desse grupo.

• Miosites idiopáticas (polimiosite e dermatomiosite): inflamação muscular com fraqueza proximal e, às vezes, lesões de pele típicas, risco de comprometimento pulmonar e associação com neoplasias em subgrupos.

• Vasculites raras (p. ex., poliarterite nodosa, granulomatose com poliangeíte, doença de Behçet): inflamações de vasos que podem afetar pele, rins, pulmões, nervos e olhos, exigindo diagnóstico rápido para evitar sequelas.

• Policondrite recidivante: inflamação recorrente das cartilagens (orelha, nariz, vias aéreas), com associação a outras doenças autoimunes em uma parcela dos casos.

Essas condições compartilham dois pontos críticos: (1) tempo é órgão — atraso no diagnóstico custa função e qualidade de vida; (2) tratamento é especializado — muitas vezes requer imunossupressores, biológicos e reabilitação coordenada.

Sinais de alerta que merecem atenção

Para o leitor leigo, vale perguntar: quando desconfiar? Alguns exemplos que pedem avaliação médica (idealmente com acesso a serviço especializado):

• Sintomas que persistem ou progridem sem explicação clara (fadiga intensa, febre prolongada, perda de peso).

• Dores ou inchaços articulares que não melhoram, especialmente quando associados a manchas de pele, mãos que f**am brancas/roxas com o frio (fenômeno de Raynaud), falta de ar ou tosse seca persistente.

• Fraqueza muscular para tarefas simples (subir escadas, pentear o cabelo) acompanhada de erupções cutâneas diferentes.

• Úlceras orais/genitais recorrentes, olhos vermelhos e alterações visuais.

• Nódulos, vasinhos rompidos e manchas que aparecem com dor em braços e pernas, junto com formigamentos ou perda de força.

Diagnóstico: do consultório ao laboratório

O caminho geralmente começa na atenção básica, com encaminhamento para especialistas e, quando necessário, para centros habilitados em doenças raras. Nesses locais, equipes multidisciplinares (clínica, reumatologia, genética médica, pneumologia, fisioterapia, nutrição, psicologia, serviço social) articulam o cuidado. Exames podem incluir autoanticorpos, capilaroscopia, tomografia de alta resolução do tórax, biópsias e, em casos selecionados, te**es genéticos.

Quando existe PCDT para a condição suspeita, o protocolo orienta o passo a passo e os critérios de acesso a medicamentos no SUS. Isso dá previsibilidade ao tratamento, reduz desigualdades e otimiza recursos.

Tratamento e vida diária: mais do que remédio

No caso das raras reumatológicas, controle da inflamação e proteção de órgãos são metas centrais. Corticoides, imunossupressores clássicos (como azatioprina, metotrexato, micofenolato) e terapias biológicas podem ser necessários, sempre com monitorização. A reabilitação — fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia (quando há vias aéreas/voz), acompanhamento nutricional — ajuda a recuperar função e autonomia.

Do ponto de vista social, direitos importam: transporte, escolarização, adaptações no trabalho, acesso a benefícios quando há incapacidade temporária ou permanente. A resolução da ONU reforça esse compromisso, incentivando os países a integrarem saúde, educação e assistência social no cuidado às pessoas que vivem com doenças raras.

O que o Brasil já tem — e o que falta

Temos: uma política nacional estruturada (PNAIPDR), com diretrizes e centros de referência habilitados em diversos estados; e a ferramenta dos PCDT, que organiza a linha de cuidado e o acesso a tecnologias no SUS.

Ainda falta: ampliar cobertura regional (para reduzir deslocamentos longos), acelerar a incorporação de tecnologias com base em evidência e custo-efetividade, qualif**ar a atenção básica para reconhecer sinais de alerta, e estimular pesquisa clínica nacional, inclusive em redes multicêntricas. Estudos apontam que, desde a criação da política, houve priorização de protocolos para raras, mas o caminho até que tudo vire realidade em cada município é gradual e exige financiamento estável e gestão.

Como encurtar a “odisseia” do paciente

Cinco passos práticos:

• Informação confiável: procure fontes reconhecidas (Ministério da Saúde, portais de diretrizes, iniciativas internacionais como Orphanet e o GARD/NIH) — elas ajudam a entender termos e a organizar perguntas para a consulta.

• Rota de cuidado no SUS: peça ao seu médico de referência avaliação em serviço especializado quando houver suspeita de doença rara; verifique a lista oficial de estabelecimentos habilitados no seu estado.

• Caderno de sintomas: anote datas, duração, fatores de melhora/piora, exames já feitos; leve fotos de lesões que vão e voltam.

• Rede de apoio: grupos de pacientes e associações sérias ajudam a trocar experiências, orientar sobre direitos e evitar promessas falsas.

• Ceticismo com “curas milagrosas”: raras costumam exigir tratamento contínuo e monitorado; desconfie de soluções rápidas e caras sem respaldo científico.

Mensagem final

Doenças raras não são “casos isolados”, e sim um mosaico complexo que toca milhões de famílias. No Brasil, a existência de uma política nacional, centros habilitados e diretrizes clínicas é um avanço concreto — mas ainda precisamos transformar papel em acesso real e oportuno, especialmente fora dos grandes centros. Com informação de qualidade, serviços integrados e compromisso público, é possível encurtar o tempo até o diagnóstico e garantir que pessoas com doenças raras vivam mais e melhor.

Dr. Marco Túlio Franco, CRM 994 RQE 204, é reumatologista e membro da Comissão de Doenças Raras da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

Fontes essenciais para saber mais

• Política, centros e diretrizes (Brasil): Portaria nº 199/2014 (PNAIPDR) e páginas do Ministério da Saúde com legislação, PCDT e estabelecimentos habilitados.

• Definições e números globais: Orphanet (definição europeia), GARD/NIH (definição nos EUA), estimativa global de prevalência (~300 milhões).

• Compromisso internacional: Resolução da ONU sobre pessoas que vivem com doenças raras (2021).

• Raras reumatológicas: dados de prevalência e revisões sobre condições como esclerose sistêmica e policondrite recidivante.

A medicina atual: quantidade não é qualidadeUma análise da formação médica no BrasilO Brasil possui hoje um dos maiores ...
10/08/2025

A medicina atual: quantidade não é qualidade
Uma análise da formação médica no Brasil
O Brasil possui hoje um dos maiores números de faculdades de medicina do mundo, f**ando atrás apenas da
Índia - país com mais de 1,4 bilhão de habitantes. Segundo o Censo da Educação Superior de 2023, são cerca
de 389 cursos de medicina no Brasil, contra 392 na Índia. Trata-se de um crescimento claramente
desordenado, especialmente quando consideramos a desproporção populacional entre os dois países.
Em 2024, o Brasil já contava com aproximadamente 575 mil médicos, o que equivale a uma densidade de 2,81
profissionais por mil habitantes - superior à de países como China, Japão e até mesmo os Estados Unidos. No
entanto, essa aparente vantagem numérica esconde um problema estrutural grave: não há professores
suficientemente qualif**ados para tantas faculdades, tampouco vagas de residência médica em número
suficiente para absorver essa crescente massa de formandos.
O problema da saúde no Brasil, como o próprio Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica
Brasileira (AMB) já apontaram, não é a ausência de médicos - e sim sua má distribuição, a escassez de
especialistas em áreas críticas, a falta de estrutura nos serviços de saúde, o crescimento desordenado das
escolas médicas, a precarização dos vínculos de trabalho, a gestão ineficiente e a politização da saúde.
Os dados regionais deixam a má distribuição dos médicos pelo Brasil bem evidente: enquanto o Sudeste
apresenta uma média de 3,76 médicos por mil habitantes, o Norte possui 1,73 e o Nordeste, 2,22. Concurso
público para médico é raro no Norte e no Nordeste, e as vagas de residência médica nessas regiões são
insuficientes para fixar os profissionais.
Para justif**ar que quantidade não indica melhor assistência, costumo citar Copacabana, no Rio de Janeiro -
onde vivi e trabalhei - como um retrato do paradoxo nacional: mesmo com alta concentração de médicos, um
idoso que sofre uma fratura de quadril pode aguardar meses por uma prótese no SUS. Isso revela que a saúde
pública exige muito mais do que quantidade de profissionais; exige estrutura, acesso, boa formação e
organização do sistema.
Mas a falta de estrutura não é exclusiva da medicina. A odontologia, por exemplo, enfrenta desafios
semelhantes: em muitos municípios, extrair um dente ou realizar um tratamento de canal pelo SUS ainda é
uma missão quase impossível.
Esse descompasso entre quantidade e qualidade está em todas as áreas da saúde. Recentemente, presenciei um
profissional não médico da assistência, recém-formado, em uma unidade de saúde, que não sabia calcular a
taxa de infusão de soro a 26 gotas por minuto - algo elementar para a prática hospitalar.
Na medicina, vemos hoje um fenômeno preocupante: muitos profissionais parecem inseguros diante da
própria capacidade clínica, recorrendo a uma avalanche de exames complementares sem o devido critério. Em
meu consultório, é comum solicitar que pacientes tragam exames realizados recentemente por outros médicos
- o que poupa tempo, evita desperdícios e permite decisões mais assertivas. Uma boa consulta começa com
escuta atenta, exame físico detalhado e solicitação criteriosa de exames. Exames mal indicados confundem
mais do que ajudam.
Mesmo na reumatologia - especialidade que lida com doenças autoimunes complexas e exige apoio
laboratorial e de imagem - frequentemente nos surpreendemos com a quantidade de exames desnecessários
trazidos por pacientes após consultas rotineiras. Isso transmite uma falsa sensação de segurança e, por vezes,
atrasa o diagnóstico correto.
Qual o sentido de solicitar repetidamente dosagens de magnésio, boro, zinco ou vitamina C em mulheres
jovens e saudáveis? Ou pedir te**es imunológicos e genéticos de alto custo antes de uma cirurgia plástica
eletiva - muitas vezes de difícil interpretação para um cirurgião? Agora, tornou-se moda solicitar dosagens
repetidas de testosterona em mulheres jovens sem qualquer indicação clínica - desperdício puro. Testosterona
é um hormônio masculino; na mulher jovem e saudável, seus níveis são naturalmente baixos.
Além de inef**azes, esses exames geram custos desnecessários para os pacientes, sobrecarregam o Sistema
Único de Saúde e contribuem para o reajuste crescente das mensalidades dos planos privados.
Médicos devem tratar pessoas, não exames. Investigações laboratoriais bem indicadas - como hemograma,
glicemia, colesterol, Papanicolau e PSA - são fundamentais na detecção precoce de doenças prevalentes, como
diabetes, câncer de colo uterino e de próstata, e devem ser valorizadas. Essa minha análise crítica não se dirige
contra a autonomia médica, que é um dos pilares sagrados da medicina e deve ser preservada, mas ao uso
inadequado dessa autonomia, que onera os pacientes, não traz resultados e não gera uma boa prática clínica.
Esse debate precisa ser ampliado no meio médico, incorporado às faculdades, aos programas de residência e à
formação ética dos médicos que atuarão nos estados mais carentes, como o Amapá.
Atualmente, temos duas escolas médicas no estado - a pública Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) e a
recém-inaugurada Faculdade Integrada. Ambas têm o potencial de formar profissionais éticos, capacitados e
socialmente conscientes. As duas instituições são suficientes para fornecer novos profissionais para nosso
estado. Cabe a nós, médicos, ao Conselho Regional de Medicina, à Associação Médica, à Academia
Amapaense de Medicina e aos dedicados docentes contribuir com essa formação, levando nossa vivência
prática e nossa responsabilidade à sala de aula e às autoridades responsáveis por políticas do setor.
Dr. Marco Túlio Franco
CRM-AP 994 | RQE 204
Médico Reumatologista, Conselheiro do CRM-AP, Coordenador da Comissão de Ética Médica da Sociedade
Brasileira de Reumatologia
e Membro da Academia Amapaense de Medicina.

Fibromialgia: A dor invisível e o reconhecimento legal pela Lei nº 15.176/2025Imagine acordar todos os dias com o corpo ...
03/08/2025

Fibromialgia: A dor invisível e o reconhecimento legal pela Lei nº 15.176/2025

Imagine acordar todos os dias com o corpo cansado e dolorido, como se tivesse trabalhado a noite inteira — mesmo sem ter feito esforço físico. A cabeça pesa, o sono não recarrega as energias, e o simples ato de lembrar onde deixou as chaves de casa se torna um desafio. Para muitos brasileiros, isso não é exagero: é realidade. Estamos falando da fibromialgia, uma condição crônica, até recentemente incompreendida — inclusive pelo próprio sistema de saúde.

O que é a fibromialgia?

A fibromialgia é uma síndrome de dor crônica generalizada, que afeta principalmente músculos e tecidos moles, mas não provoca inflamações visíveis nem alterações nos exames convencionais. Em outras palavras: dói, mas não aparece. A condição atinge, em sua maioria, mulheres entre 30 e 60 anos, embora possa surgir em qualquer idade ou s**o.

Há causas conhecidas?

Não existe uma causa única estabelecida. Acredita-se que a fibromialgia resulte de uma combinação de fatores, como:

* Predisposição genética (histórico familiar);
* Eventos traumáticos físicos ou emocionais;
* Infecções virais ou bacterianas;
* Alterações na forma como o cérebro e o sistema nervoso processam a dor.

Pacientes com fibromialgia apresentam uma hipersensibilidade à dor, como se o “volume da dor” estivesse permanentemente aumentado no cérebro.

Sintomas principais

* Dor generalizada e persistente (em ambos os lados do corpo, acima e abaixo da cintura);
* Fadiga intensa, mesmo após descanso;
* Sono não reparador;
* Déficits de memória e atenção (conhecidos como “fibrofog”);
* Sintomas frequentes: dor de cabeça, síndrome do intestino irritável, ansiedade e depressão.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é clínico, baseado na história do paciente e no exame físico. Os critérios atuais do American College of Rheumatology, aceitos pela Sociedade Brasileira de Reumatologia, devem ser avaliados preferencialmente por um médico reumatologista.

Exames laboratoriais e de imagem são solicitados para descartar outras condições, como síndrome de Sjögren, espondiloartrites, lúpus, artrite reumatoide ou doenças da tireoide.
Chama atenção o número expressivo de diagnósticos equivocados, muitas vezes decorrentes da complexidade clínica da síndrome.

Tratamento medicamentoso

Embora não haja cura definitiva, é possível controlar os sintomas. Entre os medicamentos mais utilizados:

* Antidepressivos tricíclicos e inibidores da recaptação de serotonina/noradrenalina (como nortriptilina e duloxetina);
* Relaxantes musculares e anticonvulsivantes (como pregabalina, gabapentina e ciclobenzaprina);
* Analgésicos comuns, conforme necessidade.

Opioides geralmente não são ef**azes e devem ser evitados, com exceção do tramadol, que pode ser utilizado em casos selecionados.

Tratamento não medicamentoso

O tratamento ef**az vai além dos remédios. Uma abordagem multidisciplinar é fundamental e deve incluir:

✔ Psicologia e terapia cognitivo-comportamental

Ajuda o paciente a lidar com a dor, a ansiedade e os sintomas depressivos, oferecendo ferramentas práticas de enfrentamento.

✔ Fisioterapia

Melhora a mobilidade, alivia tensões e corrige a postura. Sessões regulares contribuem para a redução da dor e da rigidez.

✔ Exercício físico

É um dos pilares do tratamento! Caminhadas leves, hidroginástica e pilates aumentam a liberação de endorfinas, melhoram o sono e reduzem o estresse. Com a evolução clínica, atividades como musculação com baixa carga contribuem signif**ativamente para o bem-estar.

O segredo é: constância e respeito aos limites do corpo.

🏛️ Reconhecimento legal: o que diz a Lei nº 15.176/2025?

A Lei nº 15.176/2025, sancionada em julho de 2025, reconhece a fibromialgia, a fadiga crônica e a síndrome complexa de dor regional como possíveis causas de deficiência, desde que comprovadas por meio de avaliação biopsicossocial, realizada por uma equipe multiprofissional (médicos, psicólogos e assistentes sociais).

O que muda na prática?

A lei determina:

* Atendimento multidisciplinar pelo SUS;
* Formação de profissionais capacitados para o manejo da fibromialgia;
* Criação de políticas públicas que favoreçam a inclusão no mercado de trabalho.

Pacientes com fibromialgia, se reconhecidos como Pessoas com Deficiência (PcD), poderão ter acesso a:

* Vagas em concursos públicos por cota;
* Isenção de impostos na compra de veículos adaptados;
* Aposentadoria por invalidez ou por deficiência (quando justif**ada);
* Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS), para famílias de baixa renda;
* Atendimento preferencial e passe livre no transporte público (conforme legislação local).

Importante: o reconhecimento como PcD não é automático. A avaliação precisa comprovar que a condição compromete, de forma signif**ativa, a autonomia e a participação social da pessoa.

Realidade no Amapá

Assim como em outros estados, o Amapá enfrenta limitações no atendimento público aos pacientes com fibromialgia. A criação de centros especializados com fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e educadores físicos é essencial para evitar agravamentos clínicos, abandono do trabalho e o surgimento de doenças secundárias, como diabetes, hipertensão, depressão e obesidade.

Atualmente, o estado conta com reumatologistas na rede privada e no Hospital de Clínicas Dr. Alberto Lima (HCAL – SUS). Para reabilitação, há serviços como Cerpis, Creap, Hospital Sarah e unidades de fisioterapia municipais em Macapá e Santana.

Conclusão

A fibromialgia é uma doença real, séria e que merece respeito. Ainda enfrentamos desafios como a desinformação e o preconceito — inclusive no meio médico. Falar sobre essa condição, explicar suas causas e impactos é uma forma de dar visibilidade a quem sofre calado.

Sentir dor constantemente não é normal. Procure um médico reumatologista!

Manifestações Osteoarticulares e Neurológicas do DiabetesO diabetes mellitus é uma doença crônica que afeta a forma como...
08/06/2025

Manifestações Osteoarticulares e Neurológicas do Diabetes

O diabetes mellitus é uma doença crônica que afeta a forma como o corpo processa o açúcar no sangue (glicose). Além dos conhecidos impactos sobre os olhos, rins e coração, o diabetes também pode afetar o sistema musculoesquelético e os nervos periféricos. Esses efeitos muitas vezes passam despercebidos, mas podem causar dor, rigidez, formigamentos e limitações nos movimentos. Este texto visa esclarecer, de forma simples, como o diabetes pode comprometer as articulações, músculos, tendões e nervos.

Manifestações Osteoarticulares do Diabetes
Quiropatia Diabética (“mãos em prece”)

A quiropatia diabética se caracteriza por rigidez progressiva nas mãos. O paciente tem dificuldade em estender completamente os dedos, como se estivesse em posição de prece. Isso ocorre por espessamento dos tecidos ao redor das articulações e dos tendões, dificultando a movimentação.

Sinais comuns:
- Dificuldade de abrir os dedos totalmente;
- Dor leve ou sensação de rigidez nas mãos;
- Incapacidade de unir totalmente as palmas das mãos.

Contratura de Dupuytren

A contratura de Dupuytren é uma condição em que um ou mais dedos (geralmente o anelar ou o mínimo) vão f**ando dobrados em direção à palma da mão. Isso ocorre por espessamento e encurtamento de um tecido fibroso (fáscia) que f**a abaixo da pele.

É mais comum em:
- Pessoas com diabetes tipo 2;
- Homens acima dos 50 anos;
- Pessoas com histórico familiar da condição.

Síndrome do Túnel do Carpo

A síndrome do túnel do carpo é uma compressão do nervo mediano que passa pelo punho. Nos diabéticos, ela é mais frequente devido ao espessamento dos tecidos ao redor do nervo.

Sintomas:
- Dormência ou formigamento nos dedos (especialmente polegar, indicador e médio);
- Dor que piora à noite;
- Dificuldade de segurar objetos pequenos.

Ombro Congelado (Capsulite adesiva)

O ombro congelado, ou capsulite adesiva, causa dor e rigidez progressiva no ombro, dificultando movimentos simples como pentear o cabelo ou vestir uma camisa.

Fases da condição:
1. Fase dolorosa – dor intensa e crescente;
2. Fase de congelamento – limitação severa dos movimentos;
3. Fase de recuperação – melhora gradual ao longo de meses.

Artropatia de Charcot

A artropatia de Charcot é uma complicação grave do diabetes, mais comum nos pés. Ocorre por perda da sensibilidade nos nervos, fazendo com que pequenos traumas passem despercebidos, o que leva à destruição progressiva das articulações.

Sinais de alerta:
- Pé inchado, quente e avermelhado;
- Mudança no formato do pé;
- Sensação de instabilidade ao caminhar.

É uma emergência médica e requer diagnóstico precoce para evitar deformidades permanentes.

Polineuropatia Diabética

A polineuropatia diabética é uma das complicações mais comuns do diabetes e afeta principalmente os nervos dos pés e das pernas. Com o tempo, a glicose elevada danif**a os nervos periféricos, gerando uma série de sintomas desconfortáveis.

Sintomas típicos:
- Formigamento;
- Queimação;
- Sensação de choque;
- Dor tipo “agulhada” nos pés;
- Perda da sensibilidade (o que pode facilitar o surgimento de feridas graves sem que o paciente perceba).

O diagnóstico deve ser feito com base nos sintomas e confirmado, quando necessário, por te**es neurológicos. O tratamento inclui controle rigoroso da glicose, uso de medicações para dor neuropática (como anticonvulsivantes e antidepressivos), e cuidados com os pés (higiene, hidratação e proteção).

Considerações sobre o Tratamento e Acompanhamento Multidisciplinar

O controle glicêmico é a peça-chave para prevenir ou retardar todas essas complicações musculoesqueléticas e neurológicas. Manter os níveis de glicose próximos do alvo evita lesões nos nervos, tendões e articulações, e melhora a qualidade de vida.

No entanto, nem sempre o controle é fácil. Em casos de diabetes descompensado ou com múltiplas complicações, o acompanhamento com endocrinologista e nutricionista torna-se fundamental. Esses profissionais ajudam a ajustar a medicação, orientar sobre alimentação e avaliar a necessidade de novas terapias.

Além disso, o reumatologista exerce um papel importante no diagnóstico diferencial. Muitas das manifestações descritas, como dor nas mãos, rigidez, ombro congelado e neuropatias, podem ocorrer também em doenças reumáticas inflamatórias, como artrite reumatoide, lúpus ou espondiloartrites. Saber distinguir essas condições é essencial para indicar o tratamento correto.

No caso da polineuropatia diabética, o tratamento pode ser conduzido tanto por neurologistas quanto por reumatologistas clínicos, que conhecem os medicamentos utilizados para dor neuropática e os cuidados necessários com os pés e os nervos.

Conclusão

O diabetes vai além do açúcar alto. Suas complicações podem afetar os movimentos, causar dor e alterar a qualidade de vida de forma silenciosa. Conhecer essas manifestações, buscar atendimento médico qualif**ado e manter o controle glicêmico são passos fundamentais para viver com mais saúde e liberdade. O olhar atento e multidisciplinar faz toda a diferença.

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