14/03/2019
O silêncio do sofrimento mental das mães.
Momentos da vida como a gravidez, o parto, o puerpério e os primeiros anos dos filhos são momentos de grande complexidade e colocam muitas mães proximas a um potencial desenvolvimento de transtornos mentais.
As dificuldades inerentes ao início da maternidade muitas vezes se mesclam com sinais e sintomas de patologias fazendo com que o reconhecimento do problema fique ainda mais difícil.
Processos de naturalização do sofrimento materno tem grande parcela de culpa nisso. Muitas vezes o puerpério f**a culturalmente associado a situações de solidão, diminuição drástica de horas dormidas, episódios regulares de alteração de humor e cuidados excessivos com a sobrevivência, higiene e saúde do bebê. Essa naturalização impõe a muitas mães a sensação de que este pacote de sofrimento faz parte da maternidade o que dificulta o reconhecimento das patologias e a busca por tratamento especializado.
" Não é o mesmo passar pelo puerpério sozinha todos os dias ou passar pelo puerpério na companhia de sua mãe, irmã, vizinha... Assim como não dormir, não dormir no puerpério imediato é um fator de risco muito alto. Inclusive é possível amamentar e dormir ao mesmo tempo, poder descansar não tem nada a ver com abandono da amamentação." diz a psiquiatra Ibone Olza.
Além disso, a pressão social sobre a função materna impõe a elas um medo de reconhecer em si problemas tão estigmatizados socialmente.
"Dá medo dizer em voz alta que se tem depressão ou que sofre de ansiedade e que acredita não ser capaz de cuidar de seu filho como deveria porque se teme o julgamento dos outros, ou pior: f**amos com medo de que nos tirem a guarda dos filhos." aponta a especialista.
O tabu a respeito das doenças mentais piora o quadro. A culpa materna f**a acrescida da sensação de fracasso por não estar "tendo vontade o suficiente de melhorar" e ainda existe o medo de ser reconhecida como uma mãe que precisa ser afastada do bebê. Além disso, temos o tabu de que sempre será preciso desmamar a criança quando se faz necessário o uso de medicação.
"Para além do tratamento farmacológico, faço acompanhamento psicológico uma vez por semana, mais ou menos. Percebo que a medicação me mantém mais estável, porém os grandes avanços vieram da terapia." relata uma das mães
O acompanhamento psicológico no puerpério preza pela escuta e compreensão das mães, a ausência de julgamentos, a redução do sentimento de solidão, assim como o rastreio para diagnósticos de transtornos, que se não cuidados podem se cronif**ar e trazer prejuízos para o desenvolvimento do bebê e de toda a experiência de maternidade.