27/12/2023
Ouve aquilo que se permite escutar. Fala daquilo que se é possível acessar.
A construção de quem somos ou queremos ser é um processo trajado por camadas. Essas que por muitas vezes auxiliam em nos esconder ou mesmo nos entregar.
Nem tudo que realmente é visto, é real. Nem tudo que é dito, traz verdade. E até aonde é possível chegar para poder entender aquilo que buscamos encontrar? E o que realmente se busca?
Escuto muito na clínica sobre: ainda não estou lá, mas pretendo chegar. E percebo o quão esse ‘chegar lá’ é mutável, instável e, na maioria das vezes, quase insustentável. Tanto que pouco é possível que se autorize quiçá chegar perto dessa possibilidade. Chegar lá traria tantos outros questionamentos e vazios, que a tendência é atrasá-lo mais e mais, cada vez mais.
Isso porque não existe somente aquilo que desejo, mas também aquilo que eu sou capaz de suportar. E quem eu finalmente seria quando eu finalmente alcançasse o emprego dos sonhos? O relacionamento que eu acho ideal? O corpo que eu almejo? A autonomia que eu entendo como adequada?
Até porque se eu chego lá e não faço absolutamente nada com isso e, mais ainda, descubro que nesse lá eu também vou me encontrar e ainda ter que lidar com aquilo que carrego comigo, terei de inventar outro lugar que me paralisa e isso dá o maior trabalho de sustentar. Melhor f**ar naquilo que eu mesmo já entendo e então dizer que é também graças a isso, que ainda não me movimento.
A pergunta que f**a é: o quão realmente disposto eu me sinto para finalmente enxergar o outro lado que eu mesmo não me sinto pronto para acessar ou demonstrar?
Muitas vezes o nosso maior esforço está em manter as coisas como elas já são - e não ao contrário. Porém, a queixa vem como se o mundo não estivesse adequado, como se ainda, simplesmente, ainda não tivéssemos tido a oportunidade de chegar lá.
Será? 🧐