
04/06/2025
Faço o meu corpo de balanço, de cama, de alimento, ele não é mais meu. Sou abrigo, sou escudo, quase desfaleço com o cansaço, mas me preencho e me recomponho.
Sinto medo na mesma proporção que sou coragem e enfrentaria tudo por ele.
Quero colo para poder dar colo.
Preciso de proteção para ser o Porto Seguro de alguém.
Precisei cuidar de outra criança, minha criança interior. Essa chorou, desesperou, teve medo do escuro e de ficar só.
Essa, nas noites em claro, invejou e pensou em cada pessoa que não estava passando pelo mesmo.
Essa precisou de rede de apoio e de colo de mãe.
Essa se encurvou para a vida, tirou a capa de autossuficiência, aprendeu a pedir ajuda.
A frase “estou com medo”, “não vou dar conta”, saiu, talvez, pela primeira vez da boca.
O preço do amor é alto.
A dor do puerpério é física, mas a cura é instantânea através de um mínimo esboço de sorriso.
A renúncia é um desafio que chega a doer.
A incompletude conversando com a completude.
É preciso ser tudo quando muito te falta.
O mundo parou dentro de quatro paredes com esse tanto de acontecimentos e sentimentos.
Olho pela janela e vejo que a vida continua e me espera.
A vida pede por aquela pessoa que nunca mais serei.
Será se pode me esperar mais um pouquinho?
Será se tenho roupa para essa nova pessoa que sou? Afinal, quem sou?
O preço do amor é alto.
Me faz sentir culpa quando em um mísero segundo, pensei: “O que fiz da minha vida?”
Ou por já acordar angustiada ao saber que o cansaço não passou e que vai começar tudo de novo, a doação é eterna.
Mas, ao primeiro olhar do dia, me faz também esquecer completamente como a noite foi difícil e agradecer a Deus, constantemente, pelo maior benção que ele me deu.
Eu me perdi, mas quem fala dos ganhos?
Ele me tirou de todos os lugares e me deu um novo, que é só dele. Nada paga o sorrisinho de barriga cheia, a respiração suspirando de descanso, os olhinhos abrindo conferindo se ainda estou ali, a mãozinha que de tão pequena só consegue grudar a ponta do meu dedo, com a força de “eu sei que você está aqui”.
(Continua nos comentários)