17/09/2025
A separação é uma experiência universal e, em muitos casos, dolorosa. Seja no fim de um relacionamento, na distância de um ente querido ou até mesmo na perda de um sonho, todos nós já passamos por esse tipo de sofrimento. Mas, para a psicanálise lacaniana, o sofrimento da separação vai muito além da perda de um vínculo afetivo. Ele toca algo mais profundo: nossa relação com o Outro e a maneira como nos construímos psicologicamente.
Por isso, a separação não é só uma experiência concreta de perda, mas também uma construção psíquica. A separação é uma metáfora para o processo contínuo de nos distanciarmos do “Ideal”, das nossas expectativas, das imagens que construímos para nós mesmos e dos outros. E esse processo é, em grande parte, o que provoca o sofrimento.
Lacan falava muito sobre o conceito de falta. Segundo ele, somos seres “falcif**ados”, ou seja, sempre faltando algo. Desde o momento em que começamos a perceber o outro como alguém separado de nós, sentimos uma espécie de vazio interno — o que Lacan chamou de “falta primordial”. Essa falta, muitas vezes, é mascarada por tentativas de preenchê-la com objetos, pessoas ou ideias. Mas, no fundo, essa lacuna nunca desaparece completamente.
Quando vivemos uma separação signif**ativa, esse vazio se intensif**a. O que Lacan propõe é que, ao invés de tentarmos preencher essa falta de forma imediata (com um novo relacionamento, por exemplo), a verdadeira cura ocorre quando conseguimos confrontar e aceitar essa falta, reconhecendo-a como parte da nossa condição humana.
O sofrimento da separação, então, está intimamente ligado à nossa relação com o Outro. Quando alguém ou algo importante sai de nossas vidas, somos forçados a revisar o que essa pessoa ou situação representava para nós. Ela pode ter sido uma imagem do Ideal do Eu, algo que nos completava ou que nos dava uma sensação de totalidade. Perder isso é doloroso porque nos coloca diante da nossa própria fragilidade e incompletude. No entanto, através da separação, há um potencial para a criação de um novo sentido. A separação, ao nos confrontar com nossa própria falta, nos oferece a chance de reconfigurar quem somos. Ao invés de uma perda definitiva, ela pode se transformar em uma oportunidade de reinvenção.
Em suma, o sofrimento da separação, na visão lacaniana, é muito mais do que a dor de perder algo ou alguém. Ele é um processo interno, que nos força a encarar a falta que sempre esteve lá, mas que preferimos ignorar. A verdadeira "cura" vem não da tentativa de preencher esse vazio, mas da capacidade de reconhecê-lo, aceitá-lo e seguir em frente com ele.
Portanto, se você está sofrendo por uma separação, lembre-se: o sofrimento, embora intenso, pode ser também um convite para se conhecer melhor, para ressignif**ar sua relação com o Outro e, talvez, até mesmo para descobrir uma nova forma de se relacionar consigo mesmo. Afinal, estamos sempre em falta em relação ao outro, mas isso não signif**a que a vida não possa ser cheia de novos encontros e descobertas.