Dr. Jales Clemente

Dr. Jales Clemente Graduou-se em medicina na UFRN em 2009. Fez residência médica em Psiquiatria na UNIFESP.

Botões e abismosNo segundo subsolo do HC Plaza, estacionei o carro e fui em direção ao elevador. Uma mulher já estava lá...
17/07/2025

Botões e abismos

No segundo subsolo do HC Plaza, estacionei o carro e fui em direção ao elevador. Uma mulher já estava lá, apertando a seta para baixo com urgência, como se, ao insistir, ela fizesse o elevador descer mais rápido até onde estávamos.

Apertei a seta para cima e disse: — A senhora vai descer? A escada é logo ali, é mais rápido.

Ela me olhou, confusa e irritada: — Não. Quem vai descer é você. Eu vou subir.
— Mas então... por que a seta para baixo?

Ela, agora convicta: — Para o elevador descer até aqui. Você apertou para cima, agora ele vai subir de novo!

Parei. Percebi: ela achava que o botão dizia ao elevador onde ele devia ir, e não para onde ela queria ir. Cada um de nós com seu modelo mental, seu manual invisível do uso das coisas.

E o elevador, coitado, sem saber se subia ou descia.

16/07/2025
Eu era, sim, do tipo que mudava os móveis de lugar.Minha mãe não gostava. Mas como eu morava em Natal e ela em Macau, ve...
03/07/2025

Eu era, sim, do tipo que mudava os móveis de lugar.

Minha mãe não gostava. Mas como eu morava em Natal e ela em Macau, vez ou outra chegava lá em casa e dava de cara com a estante virada, o sofá noutro canto, a cama trocada de parede. Nunca era por decoração. Era por alguma inquietação que eu nem sabia nomear. Só sabia que precisava mudar alguma coisa.

Lembrei disso outro dia no consultório. Um paciente entrou na sala, olhou em volta e simplesmente puxou a poltrona do pacoente, aquela que costumo deixar posicionada de um certo jeito, quase como um divã de lado. Ele tirou as cadeiras que estavam em frente à minha mesa, abriu espaço e puxou a poltrona para ficar de frente a mim. Criou outra cena. Outro lugar. Outra posição para se dizer.

E aquilo me atravessou.

Na hora, não disse nada. Só observei. Mas por dentro pensei: pronto, ele fez o que eu fazia com o sofá da sala. Às vezes, a gente não sabe como mudar a vida. Então muda o móvel. Troca a direção do olhar. Rearruma o espaço do jeito que dá.

Hoje quase ninguém mais faz isso. As casas viraram vitrines. Tudo é planejado, embutido, fixo. E a alma, talvez por isso, anda mais engessada também.

Mas tem gente que ainda se permite. Que muda a poltrona de lugar. Que encosta o corpo de outro jeito. E quando faz isso, diz mais do que qualquer palavra.

E você? Já precisou mudar alguma coisa fora porque não dava pra mudar por dentro?

🧠 Cirurgia no cérebro para tratar o TOC? Já é realidade no Brasil.Em reportagem publicada na Revista Piauí (edição de ju...
13/06/2025

🧠 Cirurgia no cérebro para tratar o TOC? Já é realidade no Brasil.

Em reportagem publicada na Revista Piauí (edição de junho/2025), o jornalista Fernando Tadeu Moraes narra um procedimento raro: a implantação de eletrodos no cérebro de um jovem com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) severo e refratário aos tratamentos convencionais.

Matheus Nassar, de 22 anos, sofria desde a infância com rituais exaustivos que tomavam horas do seu dia. Nenhum remédio ou psicoterapia havia surtido efeito. Até que ele se tornou o oitavo paciente do projeto de estimulação cerebral profunda (DBS) conduzido pela equipe do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.

💡 Como funciona?

A cirurgia, feita com altíssima precisão, insere eletrodos no núcleo accumbens — região do cérebro associada ao prazer e à motivação. Depois da recuperação, os médicos ajustam lentamente os parâmetros de voltagem, frequência e polaridade, buscando reduzir os sintomas sem comprometer outras funções cerebrais.

No caso de Matheus, os primeiros efeitos vieram logo nos primeiros te**es:

> “Estou mais alegre, como me sentia na infância”, disse, ao sentir uma onda repentina de bem-estar quando os eletrodos foram ligados.

📉 E a lobotomia?

A reportagem também revisita a história da psicocirurgia: das brutais lobotomias feitas com picador de gelo no século passado às tecnologias atuais, reversíveis e reguláveis. Hoje, o foco não é mais destruir partes do cérebro, mas modular circuitos específicos com delicadeza e ética.

📊 Eficácia

Segundo o estudo do IPq-USP, dos sete pacientes acompanhados por mais de um ano, cinco apresentaram melhora significativa. Dois entraram em remissão completa dos sintomas.

📚 Para quem quiser ler mais:

📰 “Miliamperes no Cérebro”, por Fernando Tadeu Moraes, na edição 225 da Revista Piauí.

Foi ali, sentado no canto da sala, sem expressão, que ele anunciou:— Eu morri.A voz saiu baixa, seca, com a estranha ser...
04/06/2025

Foi ali, sentado no canto da sala, sem expressão, que ele anunciou:
— Eu morri.

A voz saiu baixa, seca, com a estranha serenidade de quem já não espera nada do mundo. A esposa, do lado, apertou o terço entre os dedos. Não ousou corrigi-lo.

Na psiquiatria, damos nome bonito pra isso: síndrome de Cotard. Um delírio de ruína, onde a pessoa acredita ter deixado de existir, que seus órgãos apodreceram, que tudo acabou. Não é figura de linguagem, é certeza sentida.

Mas por trás daquele inferno teológico, havia um outro: o da depressão psicótica, onde até a fé, que já lhe sustentara um casamento, três filhos, e algumas confissões no banco de trás da igreja, havia sido levada embora.

— Doutor, se Deus existisse, não teria me deixado assim.

Desistir de Deus porque se sente morto. Eis um paradoxo que nem Chesterton teria escrito.

Aliás, lembrei dele. G. K. Chesterton dizia, com seu humor pontiagudo, que "quando os homens deixam de acreditar em Deus, não passam a acreditar em nada, mas sim se tornam capazes de acreditar em qualquer coisa". Qualquer coisa. Inclusive que estão mortos. Inclusive que estão no inferno. Inclusive que são irrecuperáveis.

Fiquei em silêncio. A esposa também. Era um daqueles momentos em que o melhor que se pode oferecer é não ir embora.

A frase que me veio, anos depois, não veio da teologia, mas dos cuidados paliativos (Cicely Saunders, 1918-2005):
"Você importa porque você é você, e importa até o fim da sua vida. Faremos todo o possível não apenas para ajudá-lo a morrer em paz, mas também a viver até morrer."

Ele não era um paciente paliativo. Mas talvez todos os que perderam a fé em Deus, nos outros, em si, precisem de um tipo próprio de cuidado paliativo da alma.

E ali ficamos: ele, morto. Nós dois, vivos.
E ainda assim juntos, esperando que a vida voltasse.

Quem aí também gosta de arte? Antes que eu diga qualquer coisa, diga-me você! O que você pensou? O que sentiu ao ver ess...
02/06/2025

Quem aí também gosta de arte? Antes que eu diga qualquer coisa, diga-me você! O que você pensou? O que sentiu ao ver essa imagem?

Ficção Baseada em Fatos ReaisMarcelo entrou no consultório bufando:— Doutor, nunca mais entro em grupo de WhatsApp! Aqui...
30/05/2025

Ficção Baseada em Fatos Reais

Marcelo entrou no consultório bufando:
— Doutor, nunca mais entro em grupo de WhatsApp! Aquilo é terra de ninguém!

Perguntei o que tinha acontecido. Ele contou que num grupo profissional fez um comentário técnico, acharam ruim, viraram memes em cima dele, e no outro dia alguém já tinha printado e espalhado:
— Eu fui fazer ciência, virei piada. Agora tô atrás de advogado!

E foi aí que ele descobriu:
Segundo o Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), o WhatsApp é espaço público. Ou seja: xingou, ofendeu, espalhou? Pode dar BO.

E mais: os administradores do grupo são co-responsáveis. Mesmo aqueles que só aparecem pra dar “bom dia, grupo” também têm o dever de moderar.

Marcelo respirou fundo:
— Eu só queria compartilhar um artigo, doutor… agora vou ter que processar o grupo do plantão.

No final, nós dois rimos. Mas ficou a lição:
Nem tudo é meme.
Discussões sérias merecem espaço privado.
E lembra: liberdade de expressão não é carta branca pra ofensa.

Ah, e se você é administrador de grupo, cuidado! Não é só dar bom dia e largar o celular: você é co-responsável pelas confusões.

Nos conta: você já sobreviveu a algum grupo tóxico de WhatsApp? Ou já foi vítima do “print criminoso”?

Eu não me acostumocom essa palavra "doido".E o que é "doido", afinal?Doido é quem é espontâneo, criativo, quem vê lógica...
21/05/2025

Eu não me acostumo
com essa palavra "doido".

E o que é "doido", afinal?

Doido é quem é espontâneo, criativo, quem vê lógica onde ninguém mais vê?
É quem não segue a boiada, mas é seu próprio boiadeiro?
É Raul Seixas abrindo a mente?
Einstein dobrando o tempo?
Tom Zé reinventando a música?
Rita Lee cantando liberdade?
Ar**no Suassuna misturando o sertão com a Grécia antiga?
Fernanda Montenegro vivendo mil vidas no palco?
Van Gogh pintando com dor e cor?
Frida Kahlo transformando sofrimento em imagem?

É não... É Clarice Lispector perguntando o que nem sabíamos sentir.

Se isso é ser doido,
então que honra a minha ser médico de gente assim.

Um personagem que representa perfeitamente esse tipo de
“loucura criativa” é Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.

Ele via o mundo com olhos próprios,
Para os outros, era um doido.
Mas sua “loucura” era cheia de sentido,
poesia e coragem.

As evidências científicas são claras:O tratamento medicamentoso combinado com psicoterapia tem melhores resultados na ma...
19/05/2025

As evidências científicas são claras:
O tratamento medicamentoso combinado com psicoterapia tem melhores resultados na maioria dos transtornos mentais. Não se trata de opinião, mas de dados acumulados em anos de pesquisa e prática clínica.

Nem todo paciente que faz terapia precisa de psiquiatra.
Mas todo paciente que procura um psiquiatra precisa estar em terapia.

Voltar a ser paciente de terapia me faz me aproximar ainda mais dos psicologos. Eu bem queria poder atender apenas pacientes que já fazem terapia também.
E graças às informações que venho compartilhando, tenho notado que cada vez mais pessoas chegam comprometidas não só com o uso da medicação, mas também com o processo psicoterapêutico. E isso é muito válido.

Ainda assim, muita gente acredita que basta tomar um remédio e pronto.
Mas mesmo em quadros com base biológica clara, o ambiente influencia e muito na evolução. Sem um espaço de escuta e reflexão, o remédio vai aliviar os sintomas, mas como será resignificado( palavra difícil né?)?

Por isso, a partir de agora, só acompanharei pacientes que estejam em psicoterapia ou que se comprometam a iniciar.

Não é regra minha. É coerência com o que funciona.

“Os verdadeiros doentes são os que fogem à mediocridade.(Simão Bacamarte em O Alienista)Dr. Jales (Psiquiatra): Prof. Ma...
06/05/2025

“Os verdadeiros doentes são os que fogem à mediocridade.
(Simão Bacamarte em O Alienista)

Dr. Jales (Psiquiatra): Prof. Marcus, você leu um relato de caso de um heremita urbano e me respondeu com uma breve discussão sobre o diagnóstico em psiquiatria.
Dr. Marcus Dantas (Prof. IFRN): O seu relato me fez lembrar que estamos recebendo, na escola, laudos com diagnósticos que antes recebiam outros nomes. TDAH era outra coisa.

Jales: Há uma confusão enorme nesses conceitos. Tanto pela ampliação dos diagnósticos quanto pela falta de habilidades de nós profissionais em interpretar os comportamentos.

Marcus: Como professor, vejo que alguns pais buscam freneticamente um adjetivo técnico para seus filhos. Na engenharia, se expandirmos demais o conceito, perde-se a objetividade e a funcionalidade. Tenho alunos com laudos iguais e não vejo similaridades entre eles.

Jales: É muito importante escutar uma opinião vindo de um professor como você que eu tenho respeito e admiração.

Marcus: Será que a sociedade não seria tão mais “defeituosa” do que imaginamos?

Jales: Nomear é também controlar. Quando um rótulo abarca tudo, ele deixa de informar e começa a normatizar. Passamos a chamar de doença aquilo que talvez seja apenas uma forma diferente de ser.

Marcus: Essa reflexão é que devemos nos preocupar não no que deveríamos ser, mas no que somos. Em uma sociedade autopoiética, as diretrizes deveriam ser a felicidade e a tolerância. O mundo nunca precisou tanto de psicólogos.

Ela chegou com queixas de ciúme patológico. Descrevia como se fosse um TOC. Era obsessivo. Invasivo.Ele controlava tudo:...
05/05/2025

Ela chegou com queixas de ciúme patológico. Descrevia como se fosse um TOC. Era obsessivo. Invasivo.
Ele controlava tudo: celular, roupa, conversas, convites. Mas havia algo ali que eu ainda não tinha visto: um espelho.

Ela contou que o marido havia começado aulas de dança. Sozinho. Com algum esforço emocional, ele a convidou para ir junto.

Na primeira aula, o professor perguntou:
– Ela já tem par?
O marido, rápido:
– Eu.
O professor, gentil:
– Um momento… vou mostrar alguns passos para ela ficar no seu nível.

Pra que ele disse isso?

Na saída, o famoso "nível" de ciúmes dele ficou "nivelado" com o dela.

Ela não reagiu. Continuaram na dança.
Ela entendeu o que ele sentia.
Ele entendeu o que ela sofria.

A inversão de papéis tocou pela tangente a vida sexual do casal. Agora, ele só " dança" com ela.
E ela, curiosamente, sente menos ciúmes.
Talvez porque, no fundo, o ciúme deles só queria dançar também, bastava não pisar um no pé do outro.
"A narrativa é inverossímil e serve apenas para fins reflexivos, resguardando integralmente o sigilo médico. Ainda assim, é possível que tais fatos venham do meu inconsciente — afinal, tudo que ouço pode reaparecer disfarçado de invenção"

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