
03/10/2024
"Antes de virar menino, ele era um pássaro, encantado como as estórias contadas para ela, menina que não sabia voar. E depois, de tanto ouvir os casos de horizontes longínquos, ela também ganhou asas e se fez borboleta para conquistar outras terras e ver com os olhos o que o coração desvela...."
(Ruben Alves - O menino e a borboleta encantada).
Frequentemente me questionam se contarei para Melissa que ela é adotada. Eu jamais esconderia dela e negaria a ela o direito sobre a verdade da sua história de vida. Quando chegar o momento dos seus questionamentos, descobertas e curiosidades sobre como ela nasceu, usarei todos os recursos lúdicos para explicar tudo.
Essa semana tive ainda mais certeza disso... Mesmo dando uma identidade e uma vida completamente novas para Melissa, fiz questão de trazer junto com ela tudo que ela possuía da sua primeira identidade: a pulseira da maternidade e uma naninha. A princípio, eu achava que era apenas isso.
Terça-feira precisei ir na unidade de acolhimento e levei ela para as titias matarem a saudade. Para minha surpresa, um menininho (que tem no máximo 5 anos) assim que a viu ficou radiante de felicidade, ele gritava o nome dela com tanta alegria e brilho nos olhos, parecia que nem tava acreditando que ela estava ali diante dele.
Na hora de vir embora, ele ficou gritando no portão dando xau e novamente gritando o (antigo nome dela).
Meu coração apertou, a garganta deu nó e choro saiu abundante... Minha vontade era de trazer ele junto comigo. Me perguntava se ele tinha entendimento que aquela, provavelmente, seria sua última vez juntos.
Ali eu entendi que Melissa não trás na bagagem da sua primeira identidade apenas uma pulseira e uma naninha... Trás muito amor, apesar de um início de história de dor.
Aquela criança, com olhinhos brilhando, gritando alto nome dela me fez perceber isso.E eu jamais tirarei dela o direito de saber disso.
Quem sabe um dia, assim como a menina e o pássaro encantado ou o menino e a borboleta encantada (como nas histórias de Rubem Alves) se reencontram em suas novas novas histórias de vidas!
Eu jamais negaria para minha filha o direito a sua história de dor, mas tbm de muito amor!