
18/07/2025
Neutralidade na Psicanálise: nem geladeira, nem conselheiro
Quando se fala em neutralidade na psicanálise, muita gente pensa em um analista frio, que só escuta e anota. Mas não é bem por aí. Freud, em “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise” (1912), propõe a neutralidade como uma postura técnica: escutar tudo com a mesma atenção, sem julgamentos ou preferências. Isso não significa ser indiferente, mas sim não deixar que seus valores pessoais contaminem a escuta.
Neutralidade não é ser neutro como uma pedra, e sim saber se colocar de forma ética, sem invadir o espaço do outro. Como explicam Laplanche e Pontalis, ela faz parte das regras técnicas da psicanálise, junto com abstinência e atenção flutuante.
Lacan, mais adiante, mostra que o analista está sempre implicado, mas deve sustentar seu lugar de forma cuidadosa. Já autores como Antonino Ferro modernizam a ideia, mostrando que o analista pode ser afetivo e criativo — desde que mantenha o foco no processo do analisando, e não em suas próprias questões.
Em resumo, a neutralidade é uma postura ética, não emocional. O analista não é um espelho vazio, mas alguém que escuta com presença, sem julgar, sem aconselhar, e sem tentar conduzir o outro. Ele sustenta um espaço onde o que importa é o desejo do analisando, não o dele.