02/10/2024
Quando uma mulher se levanta...
A criação de meninas está mudando, porém ainda sofre influências de parâmetros de gênero que orientam o feminino à submissão e ao exercício do cuidado. As brincadeiras femininas quase sempre estão em volta de bonecas, roupinhas, casinha, bebês. Elas também sofrem cobranças familiares e sociais para que sejam carinhosas, delicadas, comportadas, quietinhas: "esses não são modos de uma menina", "sente direito", e por aí vai.
Algumas meninas e mulheres com referências mais estáticas dentro deste parâmetro de feminino universal acabam por desenvolver modos de ser mais submissos. E uma das consequências é a tendência a desenvolver dependências de outras pessoas, principalmente nos âmbitos emocional e financeiro. Essas mulheres também podem se ver, em algum momento da vida, sobrecarregadas em práticas de cuidado da casa, dos filhos, do companheiro, de idosos, etc, tendo pouco foco para si próprias, seus desejos e objetivos.
O resultado deste processo de auto-anulação é a frustração experimentada de forma consciente ou não, que pode ser visível em doenças psíquicas, falta de autocuidado, irritabilidade constante, tentativa de domínio da vida dos filhos, entre outros.
No entanto, mesmo neste lugar, a mulher pode e deve se levantar. Quando uma mulher se levanta, ela ousa olhar para si e desenterrar sonhos esquecidos, ela começa a se amar diretamente e não por intermédio de outros, ela investe nela e em seu próprio crescimento, ela quer se sentir bonita e aprende a dizer não quando é preciso. Ela para de querer fazer tudo pelos outros e deixa que cada um assuma a responsabilidade pela sua vida. Quando uma mulher se levanta, todas as outras mulheres que convivem com ela podem se levantar também. A força da mulher é contagiosa. Porém se levantar e sair de um lugar de submissão e vitimismo dá trabalho, exige a coragem de se experimentar e também de desagradar e contrariar expectativas. É um processo difícil, mas a recompensa é imensurável.
Amanda Ely
Psicóloga CRP 24/03308