17/06/2022
A marcha na ponta dos pés não faz parte dos critérios diagnósticos do autismo,mas, frequentemente,encontramos crianças que, após aquisição da marcha,começam a andar na ponta dos pés,sem colocar o calcanhar no chão,de forma aleatória – apresentando-se esta,inclusive,em muitos casos,como uma estereotipia.
As pessoas com Transtorno do Espectro Autista,TEA,apresentam alterações de processamento sensorial em uma ou mais portas de entrada sensorial,o que pode influenciar diretamente a forma como ela anda.
A marcha na ponta dos pés no autismo pode assim estar associada a uma hipersensibilidade tátil(a criança considera a pressão na parte inferir dos pés desagradável e tenta evitá-la)ou a uma hipossensibilidade(quando descarrega o peso do corpo na ponta dos pés para explorar melhor o ambiente em busca de obter sensações que parecem lhe faltar). Pode ainda estar relacionada a um comprometimento do sistema vestibular, quando há alterações no sentido de equilíbrio e orientação espacial da criança, que pode tentar “compensar” andando na ponta dos pés;ou ainda,ser uma questão de processamento visual (que dificulta a correta percepção do ambiente,o que pode também alterar a marcha),entre outras possibilidades.
Vale lembrar que,qualquer pessoa com TEA pode apresentar outras comorbidades associadas. E algumas condições podem cursar com hipertonia que, neste caso, se apresentaria como um aumento do tônus da musculatura do tríceps sural(da panturrilha),o que dificulta que a criança faça a dorso flexão dos pés e consiga colocar a planta do pé inteira no chão e, então, deambular de maneira habitual.
Frente a uma criança que apresenta marcha na ponta dos pés, precisamos detalhar bem a história clínica,fazer um exame físico bem minucioso, para avaliar se existe alguma questão muscular envolvida,se é somente uma questão sensorial ou outras questões a serem investigadas, e então traçarmos um plano de tratamento.
A marcha na ponta dos pés merece atenção pois pode comprometer as atividades diárias da criança e/ou gerar dor e fadiga nas articulações,podendo ainda afetar a postura,a movimentação global e a forma como a criança conseguirá explorar o ambiente e receber seus estímulos.